domingo, 23 de setembro de 2012

A LOUCURA DA PREGAÇÃO..


..

                                                               Pr. José Barbosa de Sena Neto


Perguntamos: será que a evangelização é um privilégio somente para pastores, evangelistas e missionários? Se não, por que e como devemos evangelizar? Ainda hoje, a evangelização é um grande desafio para todos nós, crentes em Jesus. Este tema não se constitui como dos mais interessantes sobre a vida cristã muito mais nos dias de hoje, caracterizado pelo descompromisso agravante da maioria da membresia das igrejas locais. Hoje a proclamação é caracterizada e comandada pela visão da prosperidade a qualquer custo...

Porém, ele é um dos principais valores da fé cristã juntamente com a adoração e a edificação dos santos. Segundo as Sagradas Escrituras, todos os regenerados constituem uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. (I Pedro 2.9) Todos os nascidos de novo foram chamados por Deus para propagar os louvores de Deus, ou seja, para dar testemunho.

De acordo com as Escrituras Sagradas, a evangelização é indispensável para a salvação dos perdidos. O apóstolo Paulo afirma: “aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (I Coríntios 1.21b) É por meio da pregação do Evangelho que os pecadores são salvos. Através da pregação do Evangelho, Deus comunica a fé salvadora aos homens perdidos.  “E assim, a fé vem pela pregação e a pregação da palavra de Cristo” (Romanos 10.17). Desta forma, a evangelização não é assunto para uns poucos vocacionados, mas para pessoas que foram transformadas pela loucura da pregação de nossa identificação com Cristo crucificado.

Evangelizar na sua definição mais simples é pregar o evangelho. O Evangelho é uma boa nova de Deus para o mundo. A implicação disso é que o evangelho tem, ao mesmo tempo, uma origem divina (ele vem de Deus) e uma relevância humana (ele fala pelo ser humano transformado). A grande tragédia do cristianismo nos dias de hoje não tem sido a falta de evangelização, mas sim, de uma evangelização centrada em Deus.

O que tem predominado é uma evangelização antropocêntrica, centrada no homem. O foco deixou se estar em Deus, e passou a estar no homem. O resultado disso é a grande dependência de métodos e estratégias humanos ao invés da dependência total da graça de Deus. A evangelização cedeu lugar para o proselitismo e o Evangelho transformador tem sido substituído por sistemas religiosos ou conceitos de autoajuda. Há muitos métodos ‘com propósitos’ e sem propósitos divinos, apenas estratégias de marketing. Por isso tantas igrejas superlotadas de pessoas vazias e sem vidas genuinamente transformadas pelo poder de Deus. Falta-lhes a ação do poder de Deus, poder transformador. 

Se realmente quisermos conhecer e participar da evangelização, devemos retornar à Bíblia Sagrada. A evangelização bíblica tem como ponto de partida Deus Pai e nunca o homem. Ela começa com Deus, é por meio de Deus e é para Deus, “porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Romanos 11.36).  Deus é o autor da evangelização.  As raízes da evangelização estão fincadas na eternidade. Foi o Deus Trino quem arquitetou o plano da salvação para ser executado em várias etapas, antes que o mundo existisse.

Neste plano, Deus Pai devia enviar seu Filho ao mundo para resgatá-lo do pecado, Deus Filho haveria de vir voluntariamente ao mundo para se tornar merecedor da salvação por meio de sua obediência até a morte, e Deus Espírito, aplicaria a salvação dos pecadores, derramando sobre eles a graça renovadora.         

A - Deus Pai, foi o grande mentor da salvação e da evangelização. Foi Ele quem concretizou no tempo o plano eterno da salvação, revelou sua execução no evangelho e estabeleceu o evangelho como o meio indispensável de salvação. Ainda na eternidade, ele comissionou o Filho para se tornar o redentor do mundo mediante sua morte vicária na cruz e mediante a sua obediência perfeita. Em favor dos pecadores, Deus planejou que o seu Filho nos resgatasse da maldição da lei, “fazendo ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro).” (Gálatas 3.13). Foi Deus quem inspirou os antigos profetas a predizerem a vinda do Filho de Deus em carne para experimentar o sofrimento e depois a glória.

Nos dias da encarnação de Jesus, ele enviou sobre Ele o Espírito Santo para capacitá-lo a realizar suas obras. Deus Pai não poupou o Seu Filho Unigênito em favor dos pecadores. Foi ele quem ressuscitou Jesus dentre os mortos. Foi ele também quem exaltou seu Filho acima de todo o nome. (Filipenses 2.9-10).    

B – Jesus também é autor da evangelização. Jesus morto e ressuscitado constitui o tema central do evangelho. Ele se dispôs voluntariamente diante do Pai a se tornar o salvador dos homens. (Hebreus 10.7).  Foi Jesus, quem trouxe à luz a essência do evangelho (João 1.29). Nos dias de sua carne, ele proclamou o Evangelho do reino de Deus. Ele deu responsabilidade aos seus apóstolos e à sua igreja, após ter morrido e ressuscitado, inaugurando uma nova dispensação. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19) Foi Ele quem deteve Saulo de Tarso, transformando-o, de perseguidor da igreja, no maior missionário e evangelista cristão de todos os tempos.

C – O Espírito Santo é o autor da evangelização. É pela graça regeneradora do Espirito Santo e pela eficaz aplicação do Evangelho feita pelo mesmo Espírito que o pecador chega ao arrependimento e à fé. Foi o Espirito Santo quem moveu os homens do Velho Testamento a falarem, “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens (santos) falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (II Pedro 1.21). 

No Pentecostes, o Espírito Santo veio sobre a igreja capacitando-a a conquistar o mundo para Cristo. O Espírito é poder capacitador para a igreja testemunhar de Cristo. Ele transformou Pedro de um covarde em um intrépido pregador do Evangelho. O Espírito Santo foi ele quem guiou Paulo para Roma. É a terceira Pessoa da Trindade quem preserva o Evangelho. Não fosse Ele, há muito tempo se teria perdido o Evangelho. A própria igreja o teria destruído. Ele é o Espírito da verdade. (João 14.16-17). Assim, não é a eloquência do pregador, nem a força de vontade da pessoa não regenerada a razão da regeneração, mas sim, a operação da graça do Espirito Santo.

Sim, a evangelização tem o seu princípio em Deus e este é o principal motivo porque temos que evangelizar. Sendo assim, precisamos entender que a evangelização é muito mais do que evangelismo e missões; é mais amplo e, evidentemente, abrange o trabalho de evangelismo e a obra de missões. Ela abrange tanto a dimensão externa como a interna da igreja. Somente o Evangelho é capaz de motivar e capacitar uma nova criatura a evangelizar. Somente uma pessoa que conhece o evangelho como experiência, poderá evangelizar. Mas a verdade é que o Evangelho pregado culto após culto dentro das igrejas é que nos fortalece e nos impulsiona a evangelizar. A evangelização interna da igreja é tão fundamental como a dos não crentes. Uma não acontece sem a outra.

Uma vez transformados pela mensagem da morte e ressurreição de Jesus e de nossa morte e ressureição com Ele, crescemos no conhecimento de Cristo pelo mesmo Evangelho. Quanto mais mergulhamos no mar, mais percebemos a sua dimensão. Assim se dá com o Evangelho. Cristo me atraiu, Cristo me crucificou, Cristo nos fez morrer, Cristo nos ressuscitou, Cristo é minha vida, são as forças motivadoras da verdadeira evangelização. Uma vez que isso se constitui na base de nossa experiência cotidiana, fica muito mais fácil compartilhar e proclamar o Evangelho.

Portando, se quisermos, podemos nos envolver em projetos de evangelização da igreja local ou ainda atuar como missionários em algum lugar distante. Não importa como pregamos o Evangelho “a tempo e fora de tempo”, “quer seja oportuno, quer não” (II Timóteo 4.2), o que não podemos é nos calar, porque é da vontade de Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. Que assim o Senhor Deus nos capacite. Amém!  

HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE JESUS



                                        Pr. José Barbosa de Sena Neto
                                     pastorbarbosaneto@yahoo.com.br



A manifestação da graça na vida cristã liga-se a um Cristo que se humilhou. Um Cristo humilde que, tendo a forma de Deus, deixa-a para Se humilhar até à morte e morte de cruz. O meio dessa união entre os santos, e o meio para a manifestação e permanência desse amor, está na identificação com Cristo. Foi esta humildade que tão perfeitamente se manifestou em Cristo, em contraste com o primeiro homem Adão. Este tinha procurado torna-se semelhante a Deus por usurpação e elevar-se em detrimento de Deus, sendo ao mesmo tempo desobediente até a morte. (Gênesis 2.16-17; 3.6-7).

O Senhor Jesus, quando em forma de Deus, aniquilou-Se, por amor, de toda a Sua glória, da forma de Deus, e tomou a forma de homem, e em forma de homem se humilhou. Como Deus, humilhou-Se até a morte e morte de cruz (Filipenses 2.8). Que perfeito amor, que gloriosa verdade, que preciosa obediência!  Um Homem, pelo justo julgamento de Deus e pelo Seu ato foi elevado à direita do trono da majestade divina! Em Cristo, temos a plena manifestação do amor de Deus aos homens (Hebreus 1.1-3).

O Senhor Jesus revelou Deus para nós de maneira plena. Se quisermos saber como Deus é, basta olharmos para o Senhor Jesus. Deus é amor e nós vemos esse amor em Jesus Cristo. Em Cristo vemos Deus plenamente, e não há outra maneira de conhecer a Deus, senão no conhecimento que encontramos na pessoa de Jesus Cristo.

Que maravilhosa verdade é a pessoa de Cristo! Que sublime verdade é esta descida e esta ascensão pela qual Ele enche todas as coisas como Redentor e Senhor da glória! Deus descido em amor; o Homem assunto ao céu segundo a justiça! Agora, Ele que foi digno, em toda eternidade, quanto à Sua pessoa, de estar assim à direita de Deus, é, como Homem, elevado por Deus a Sua direita! Todos os conhecimentos encontram-se em Cristo, todas as sabedorias residem Nele, tudo está Nele! “Porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Colossenses 1.17-20).

Se olharmos para a criação, Ele é o primogênito; se olharmos para a nova criação, Ele é o princípio; se olharmos para a Igreja, Ele é o cabeça; se olharmos para o universo, Ele é o Senhor. O pleno conhecimento da vontade de Deus é simplesmente Cristo.  A justiça de Deus foi plenamente satisfeita. Os nossos corações podem tomar parte, alegres, na glória do Senhor, alegres por também ali terem parte pela graça do Senhor. Só Deus podia esvaziar-se de Sua glória em favor de criaturas caídas. Tudo por amor! Que extraordinário amor!

Mas é Nele, em Cristo, que o apóstolo Paulo pensa, não em nós, frutos dessa humilhação. Paulo se alegre no pensamento da exaltação de Cristo. Deus O elevou soberanamente e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome, de sorte que todo o ser nos céus e na terra, e mesmo todo o ser infernal deve dobrar os joelhos diante deste Homem exaltado por Deus, e toda a língua deve confessar que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai! (Filipenses 2.9-11). 

Deus ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos e Lhe deu a glória e um lugar acima de todas as coisas, lugar de que Ele era, sem dúvida, pessoalmente digno, mas que recebe e devia receber das mãos de Deus, que O estabeleceu como Senhor sobre todas as coisas. Unindo-Se à Igreja como sendo o Seu corpo, e ressuscitando os membros desse corpo da sua morte em pecados pelo mesmo poder que ressuscitou e exaltou o Cabeça, vivificando-os juntamente com Cristo e fazendo-os assentar nos lugares celestiais Nele, pelo mesmo poder que O exaltou. Assim a Igreja, o Seu corpo, é a Sua plenitude.  

O apóstolo Paulo pede aos crentes de Éfeso para que eles conheçam o poder, já manifestado, que tinha já operado a fim de que eles tivessem parte nesta bendita e gloriosa posição. Porque do mesmo modo como eles eram introduzidos pela soberana graça de Deus na posição de Cristo perante Deus, Seu Pai, assim também a obra que foi operada em Cristo, e o desenvolvimento do poder de Deus que teve lugar elevando-O desde o túmulo até à direita de Deus Pai, acima de todo o nome que se nomeia, são a expressão e o modelo da ação desse mesmo poder que opera em nós que cremos. E este poder nos eleva do nosso estado de morte no pecado, para nos fazer tomar parte na glória desse mesmo Cristo. Que abençoada humilhação! Que gloriosa exaltação!    

MARAVILHOSA GRAÇA!...




                                     Pr. José Barbosa de Sena Neto
 

     Nascemos neste mundo algemados pelo pecado, mortos para Deus e filhos espirituais do diabo. Estas são palavras fortes, no entanto, retratam a mais pura realidade do ser humano.  Não podemos brincar com este assunto. A natureza que herdamos do nosso primeiro pai, Adão, é totalmente avessa a Deus (João 8.34; Efésios 4.18; João 8.44a).

   Toda a predisposição do homem é em direção às trevas. De modo espontâneo, amamos o engano e não precisamos nos esforçar para andarmos nos desejos de nossa carne. Somos conduzidos pela natureza adâmica  e de modo natural nos inclinamos aos apelos do nosso coração caído (Jeremias 13.23).

   Muitos se gloriam e se satisfazem em sua própria justiça. Pensam que por terem uma conduta aprovada pelos homens serão aceitos por Deus. Ledo engano! A Bíblia não admite este tipo de conclusão (Isaías 64.6). Observemos que não são os nossos pecados que são "trapos de imundície", e sim, "as nossas justiças". Verdadeiramente a queda no Éden trouxe a ruína espiritual para toda a humanidade. Todas as ações realizadas pelo homem, por mais dignas que possam ser, estão maculadas pelo pecado.

   Diante deste fato, constitui-se num engano terrível alguém pensar que as suas obras de justiça, seu comportamento, sua religiosidade ou moralidade lhes servem como uma espécie de garantia de salvação. Qualquer tentativa do homem em buscar a salvação por meio de seus próprios méritos é absurda, ofensiva, inaceitável e abominação diante de Deus. Vejamos o que as Escrituras nos dizem: (Efésios 2.9; Romanos 11.6; Filipenses 3.4-8).

   Alcança grande bênção aquele que ganha a revelação de sua completa pecaminosidade. No entanto, aquele que pensa que tem em suas mãos o destino de sua vida, é o mais miserável de todos os homens. Pobre daquele que acha que precisa fazer a sua parte como: boas obras, caridade, ritos religiosos, para que possa ser salvo. Louco é o homem que não dá a devida atenção à questão mais importante da existência humana: a regeneração em Cristo Jesus!

   Ser salvo pela graça significa dizer: nasci em iniquidade e mereço o inferno, contudo, fui alcançado pela bendita misericórdia divina; merecia a condenação, mas ganhei a justificação; o lago de fogo e enxofre era o lugar para onde eu deveria ir, porém, o Senhor Deus me reservou o céu como herança! Louvado seja Deus!

   A graça repousa apenas naqueles que chegaram ao fim de si mesmos, ou seja, nos falidos. É incrível, mas muitos pensam que pelos seus muitos pecados estão privados da graça de Deus. Isto é contradição! No conceito humano, pecado e graça estão em extremos opostos. Pensam que a graça vem somente onde não há pecado. Porém, é exatamente o contrário!

   A nossa miséria é condição básica para recebermos a graça!  O pecado é um dos maiores enganos do homem, mas o seu maior engano é pensar que o pecado impede o homem de receber a graça! (Romanos 5.20) Não são os nossos pecados que impedem a ação da graça em nós, mas a nossa soberba. Somos tremendamente limitados para compreendermos este tão santo e puro atributo divino, que é a soberana graça.

   É dito que o caminho para o céu não atravessa uma ponte de pedágio, e, sim, uma ponte livre,  a saber, a graça não merecida de Deus, em Cristo Jesus. A graça opera independentemente dos valores humanos. Ela reside unicamente na soberana vontade de Deus. A graça divina recusa-se a ser ajudada naquilo que ela tem de fazer. Portanto, nada há que possa derrotá-la, e uma vez dada, age eficazmente.

     O reinado da graça está baseado na justiça do Filho de Deus (Romanos 5.21b). A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Jesus Cristo. Sendo a graça o que é, a mensagem da cruz torna-se a única esperança para o pecador afundado no brejo do pecado. A salvação do perdido está ligada diretamente ao sacrifício realizado por Jesus Cristo naquela cruz (Tito 3.4-7).

   Cristo em sua morte, carregou a culpa do nosso pecado. O Senhor do universo, pendurado naquele rude madeiro, derramou todo o seu sangue e, desta forma, nos outorgou tão grande salvação (Romanos 3.24-25a). Somente a graça tem o poder miraculoso de trocar a nossa velha natureza por uma complemente nova, transformada (II Timóteo 2.11).  

   Nada podemos fazer, em nada podemos colaborar, a não ser nos render a esta maravilhosa graça! A porta de acesso para a salvação do pecador tem um único nome: GRAÇA!  A graça anuncia que não precisamos fazer nada para sermos salvos. Ela não exige, mas doa. A graça não requer que sejamos fortes, mas fracos. A graça reina triunfante. Somente pela graça, o homem pode ser salvo! Graça! Quão maravilhosa graça! Louvado seja Deus!

Graça! Quão maravilhosa graça,
Como o firmamento, é sem fim!
É maravilhosa. É tão grandiosa,
É suficiente para mim.
É maior que a minha vida inútil
É maior que o meu pecado vil
O nome de Jesus engrandecei e glória dai!

SAULO, O PERSEGUIDOR...


                                                   Pr. José Barbosa de Sena Neto


O apóstolo Paulo é o responsável por esta tão chocante afirmação: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo, e pondo em prisões, tanto homens como mulheres... Havendo recebido autorização dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a difamar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui” (Atos 22.4; 26.10-11). O que nos impressiona é o quanto um fanatismo religioso pode cegar e escravizar um homem! Eu que o diga, pois fui um perseguidor implacável do povo de Deus, mas assim “o fiz ignorantemente, na incredulidade” (I Timóteo 1.13).

Paulo, escrevendo aos irmãos em Filipos, descreve um pouco daquilo que ele conseguiu ao longo de sua vida enquanto esteve envolvido com o sistema religioso chamado judaísmo. No livro de Filipenses 3.4-6 está escrito: “Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.”

O que aconteceu a este homem, portador de tão distinto currículo? O que fez com que ele considerasse esterco tudo aquilo que alcançou através da sua religião? Por outro lado, como afirmar a sua afirmação categórica? “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filipenses 1.21). O que motivou Paulo a registrar tão profundas palavras? “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu u  nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o  Senhor, para glória de Deus Pai”! (Filipenses 2.9-11).

Para responder estas e outras questões, precisamos voltar para a estrada de Damasco, por ali aconteceu um encontro já agendado pelo Senhor antes da fundação do mundo. Isto está registrado no Livro de Atos 9.1-5. Observemos, inicialmente, que o ódio de Saulo era contra os discípulos do Senhor Jesus, e não propriamente contra Jesus. Para este homem furioso, Jesus era apenas um defunto. Saulo estava perseguindo apenas um grupo fanático e, na sua mente, um grupo herético. Ele também não sabia que perseguir a Igreja é perseguir o próprio Cristo. No entanto, já bem próximo de Damasco, de maneira inesperada, uma luz vinda do céu brilhou fortemente ao seu redor, e em consequência disto, Saulo caiu por terra.

Segundo biblistas famosos, o verbo cair, utilizado por Lucas nesta passagem, tem um significado extremamente importante, pois equivale a: cair como morto, cair em pedaços ou ter um colapso. O quadro prossegue, e nos mostra que durante a queda uma voz ecoou dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo então, perguntou: “Quem és tu, Senhor?” É possível que a resposta dada pelo Senhor tenha trazido um profundo espanto no coração de Saulo:  “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”.

Devemos saber que Saulo de Tarso era um homem extremamente preparado e conhecia os Escritos da velha dispensação. O livro de Atos 22.3 confirma isso: “Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus”.

A expressão EU SOU penetrou profundamente em seu ser. Saulo reconheceu perfeitamente aquela fala. Sabedor como era de toda lei, conhecia muito bem aquelas palavras. No livro de Êxodo 22.3a está registrado: “Eu sou o Senhor, teu Deus...”.  Como deve ter ficado o coração de Saulo diante de tão grande revelação? Saulo, completamente despedaçado, percebeu que estava frente a frente com o  Deus da Aliança, o Criador do universo.

Certa ocasião, Jesus falou a um grupo de judeus religiosos: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”. (João 8.58). Verdadeiramente,  Saulo percebeu que não estava diante de um simples homem, ele estava diante do Deus Santo e Eterno. Neste encontro verificamos o fim de Saulo de Tarso. Este homem tremendamente religioso, mas possuidor de uma natureza caída, chegou ao fim de si mesmo, pois ninguém que tenha um encontrou com o Senhor consegue permanecer o mesmo! O grande e cruel perseguidor da Igreja, daquele momento em diante, seria um vaso escolhido por Deus para que anunciasse o seu Filho bendito por toda a parte: “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” (Atos 9.20).

O Senhor Jesus Cristo veio a este mundo para libertar o homem de todo o jugo de escravidão. As maiores e mais danosas algemas encontram-se nos sistemas religiosos. O compromisso do Senhor Jesus é nos dar vida, e não nos dar um sistema para seguirmos. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará ... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8. 32 e 36).

A Igreja de Cristo não é um sistema de religião, mas uma reunião de santos. Pessoas que foram regeneradas pela graça de Deus, e que se reúnem por causa de Cristo, por meio de Cristo e para Cristo. A Igreja de Cristo é composta de pessoas que foram libertadas (arrancadas) pelo próprio Deus “do império das trevas” e por Ele transportadas “para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13).

Qual tem sido a busca de nossa alma? Por regras, princípios, coisas espirituais? Será que não estamos muito agarrados nas obras da religião? Será que não estamos fazendo de Cristo apenas um coadjuvante em nossas reuniões? Creio que a maior necessidade da Igreja em nossa época é ganhar a visão de Cristo e ser dirigida por ela. Pois todas as coisas são Dele, por meio Dele e para Ele. Que Deus incline o nosso coração para uma única direção, o seu Filho Jesus Cristo! Que assim seja!



“...Os Inimigos da Cruz de Cristo”



Pr. José Barbosa de Sena Neto


     Censurado pelos estigmas da cruz, o apóstolo Paulo censura aqui, afirmando com lágrimas, que há muita gente adversária da cruz de Cristo. Os opositores da cruz de Cristo não são tipos exóticos, isto é, estrangeiros. É gente da própria igreja e não do mundo. É um grupo que tem a linguagem correta, mas um espírito de hostilidade.

     O apóstolo Paulo se refere a eles como “muitos”. São crentes na passarela e hereges nos bastidores. O apóstolo chora diante deste quadro triste. Em sua biografia, nós o vemos cantar louvores debaixo da bordoada, mas ele não suporta a dor causada pelos adversários da cruz de Cristo. Ele destaca alguns traços para nos ajudar a identificar os opositores da cruz de Cristo no seio da Igreja. Paulo nos indica: “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”. (Filipenses 3.19).

     Em primeiro lugar, “o destino deles é a perdição”. O intento dos inimigos da cruz de Cristo é a não salvação dos perdidos. Apesar de estarem na Igreja, eles não são salvos e, sendo assim, o seu encargo principal é impedir aqueles que seriam salvos, de serem salvos. Eles procuram ocultar a mensagem da cruz, para que os perdidos não sejam alcançados pela graça.

     Eles até pregam a mensagem, mas o espírito como anunciam não é de um crucificado: são invejosos e disputam um lugar no espaço como se precisasse de reconhecimento dos irmãos. Se Deus tivesse outro meio para salvação dos pecadores fora de Cristo crucificado e não tenha usado este método, então, temos que admitir que Deus seja mau, muito mau, porque submeteu o seu Filho a um sofrimento atroz, tendo ele outra escolha. Porém, se esta é a única opção, não há como não apresentá-la aos perdidos, já que esta é a alternativa sine qua non para a salvação dos pecadores.

     Como os inimigos da cruz de Cristo são o joio no meio do trigo ou os lobos com peles de cordeiros, eles não somente fingem que são salvos, como também atrapalham a salvação dos perdidos. Não pregam o evangelho em sua essência, pois o que os motiva é a condenação eterna dos incrédulos. Quem não evangeliza ou promove a evangelização dos perdidos, por meio de Cristo crucificado, é um inimigo figadal da cruz de Cristo.

     Em segundo lugar, “o deus deles é o ventre”. Os contendedores da cruz de Cristo vivem da veneração de suas entranhas. São pessoa devotas aos seus apetites, endeusando as suas ambições carnais. Eles não sabem discernir o Pão do céu do pão dormido. Não sabem distinguir o Maná de Deus do cardápio da religiosidade; a ceia do Senhor, dos brioches da revolução francesa; o Pão nosso de cada dia, que é Cristo, do sustento diário.

     A propina também faz parte deste culto idólatra do deus guloso. Desde Esaú, que vendeu a sua primogenitura por um prato de comida, até os esfomeados pós-modernistas, que negociam a ênfase da cruz por uma posição no pódio religioso, a tática é a mesma. É a profanação do sagrado e a secularização do santo.
O “deus...ventre” é ainda ventríloquo, pois a sua boca fala inspirando a marionete da hipocrisia religiosa. Ao sonegar a pregação da cruz de Cristo, o divo das feições falsificadas promove a conduta humanista como se fosse o verdadeiro estilo de vida cristã. Essa é a tática mais perigosa dos inimigos da cruz de Cristo: a proclamação do humanitarismo como se fosse o cristianismo em sua essência.

     Em terceiro lugar, “a glória deles está na sua infâmia”. Se há um fulgor que se realça no procedimento dos inimigos da cruz de Cristo é o investimento na desonra dos outros. Os oponentes do evangelho vivem saboreando o prato da vergonha alheia. Eles se estimulam com as fofocas e se nutrem das sujeiras que gostam de destacar.  Como abutres, apreciam a carniça e se deleitam naquilo que causa embaraço e infâmia em alguém. Uma vez que o evangelho se agrada em cobrir com amor as feridas da vergonha, os contrários às boas notícias se especializam em espalhar o seu mau cheiro por todo lugar. “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões”. (Provérbios 10.12).

     Uma das peculiaridades do evangelho é garantir com amor a decência do humilhado. Não se tata de encobrir o pecado alheio, mas de assumi-lo como sendo seu, enquanto avoca para si a divida do devedor. Pedro vem nos ajudar: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (I Pedro 4.8). Não é encobrir o pecado, mas cobri-lo. Não se trata de ocultação de cadáver, mas de tomar a dívida do culpado, pagando-a como se fosse sua própria dívida. Foi assim que o Senhor Jesus fez conosco.

     Em quarto lugar, eles “só se preocupam com as coisas terrenas”. Se você quiser reconhecer um inimigo da cruz de Cristo na Igreja, veja a sua ênfase. A sua agenda enfoca apenas os assuntos relacionados com o aqui e o agora. Para eles o patrimônio econômico é mais importante do que os bens eternos. O dinheiro da ‘igreja’ vale mais do que a salvação de uma alma. O saldo da conta bancária na terra tem mais significado do que os depósitos em pessoas, enviados para o banco celestial. Os inimigos da cruz de Cristo, que andam  entre nós gente de bons antecedentes criminais, mas também, são os mentores da não pregação do evangelho de Cristo crucificado. Eles procuram impedir a proclamação da nossa morte e ressurreição com Cristo, e , quando não conseguem, adaptam a mensagem usando uma linguagem semelhante, enquanto boicotam os pregadores nos bastidores.

     Os piores inimigos da cruz de Cristo estão no seio da Igreja. O apóstolo Paulo disse que eles eram “muitos”, quando a população do mundo era pequena e os números da Igreja bem menores do que agora. Acredito que temos uma multidão incalculável dos inimigos da cruz de Cristo convivendo com os santos na Igreja contemporânea. Por isso mesmo, precisamos de cuidado e acuidade espiritual para podermos não entrar no seu jogo. Rogo, pois, pelas misericórdias do Senhor Deus, para que não percamos de vista a ênfase divina na pessoa de Cristo e na Sua obra graciosa realizada na cruz do calvário.

     Que assim seja. Amém!