A Bendita Virgem, Maria de Nazaré, a mãe de Jesus é a mais famosa de todas as mulheres da Bíblia. Para nós, cristãos evangélicos tradicionais, ela é a mais famosa de todas as mulheres do mundo através da história.
Seu privilégio é único, singular, incomparável. Ela foi nada menos que o vaso escolhido pelo Senhor Deus para realizar o grande milagre da encarnação do Verbo eterno, que estava com Deus desde o princípio e era Deus (João 1.1.14). Além de não haver precedente, a encarnação do Filho Unigênito de Deus não se repete no transcurso das épocas ou na eternidade. “E o Verbo se fez carne”, de uma vez por todas e para sempre.
É certo que, no maravilhoso cenário da história redentora, a atenção se concentra na pessoa do Cristo de Deus. Maria, porém, tem ali também um lugar de proeminência. Não desejamos passar por cima de sua pessoa nem permitir que sejam somente outros que lhe rendam tributo de admiração e respeito, se aproveitando do seu maravilhoso exemplo de submissão, obediência e profunda piedade.
Poderíamos dizer, sem medo de errar, que Maria é patrimônio de todos nós que professamos ser cristãos. Se existe uma espécie de monopólio mariano é porque temos permitido isso por razões teológicas e, quem sabe, pelo temor de cair nos excessos que outros têm caído por sua devoção a Maria, a serva do Senhor. Como resultado do que podemos chamar e “apatia mariana”, muitos pensam que não gostamos de Maria ou, no pior dos casos, que somos inimigos. Nada está mais longe da verdade, mas esta é a atitude que não poucos creram ter percebido ou que alguns, maldosamente, nos têm atribuído. Temos que corrigir essas impressões falsas e responder a toda acusação falsa no testemunho cristológico e mariano das Sagradas Escrituras, tendo uma atitude respeitosa para com a mãe de Jesus, o nosso Divino Salvador.
A mais linda história que já foi contada e, sem dúvida alguma, a do nascimento de Jesus e dos fatos que envolveram Maria, a mãe do Salvador. Maria foi uma mulher pura, santa, piedosa, virtuosa e humilde, até o sacrifício. Ela conhecia bem as Sagradas Escrituras do Velho Testamento, daí a sua fé e a beleza do seu caráter de esposa e mãe.
Isto posto, voltemo-nos para uma passagem do Evangelho de São Lucas (1.26-56) para nos encontrarmos de novo com a bendita Virgem, a autêntica Maria de Nazaré, a “serva do Senhor”, revelada pelo Espírito Santo através de seu servo, o médico, historiador e evangelista Lucas. É nossa intenção, dizer algo sobre seus privilégios, as palavras que recebe e as que ela pronunciou. Se ela, como discípula, imitou a Cristo, seu Filho especial, seu próprio Criador e Deus sobre si mesma, nós, como discípulos de Jesus, devemos fazer o mesmo. Mas, para tal, torna-se imprescindível enxergar honestamente o que a Bíblia Sagrada afirma a seu respeito sobre os seus privilégios, as palavras que foram dirigidas a ela, e o que ela afirma de si mesma.
Em primeiro lugar, os privilégios de Maria. O fato de que Maria era da Casa de Davi, é um ensino da tradição cristã. Contudo, a linhagem de Maria tem sido objeto de discordância entre alguns exegetas do Novo Testamento.
O historiador Lucas não afirma no capítulo 1 de seu evangelho que Maria era de descendência davídica. Diz, no entanto, que José era “da casa de Davi” (1.27). Não falta quem prefira ler “a uma virgem da casa de Davi”, deixando entre parênteses o fato de que estava “desposada com certo homem cujo nome era José”. No versículo 36, o anjo diz que Isabel (“das filhas de Arão” 1.5) era parenta de Maria, o que poderia significar que a mãe de Jesus era de família sacerdotal. A filha de um sacerdote poderia ter um grande número de parentes que não tinham qualquer ascendência sacerdotal. Frequentemente tem sido afirmado nos círculos cristãos que é possível que Maria viesse da mesma linhagem de José, se a genealogia do Evangelho de Lucas (cap. 3) é da mãe do Messias. Lucas destaca que José era “da casa de Davi” (1.27), porque legalmente o filho recebia de seu pai os direitos de dinastia. Jesus era legalmente (de jure) filho de José e filho de Davi, tendo, portanto, direito ao trono messiânico.
A descendência davídica de Jesus de Nazaré se encontra bem atestada no novo Testamento. O anjo Gabriel diz a Maria “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lucas 1.32). Paulo declara: “... com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi” (Romanos 1.3).
Está claro que Maria pertencia ao remanescente fiel da nação israelita, ou seja, o grupo de descendentes de Abraão que anelava a vinda do Messias anunciado pelos profetas do Antigo Testamento. O nome dos pais de Maria não aparece nas Sagradas Escrituras judaico-cristãs. É a literatura apócrifa que se encarrega de fornecer os nomes que a Igreja Católica Romana tem incorporada ao seu santoral: Joaquim e Ana. Supõe-se que Maria nasceu e se criou num lar piedoso. Ali teria ouvido pela primeira vez as grandes promessas do Senhor Deus ao Seu povo Israel. Não sabemos se Maria alguma vez pensou na possibilidade de que seria a escolhida do Senhor Deus para a encarnação do Filho Ungido de Deus. Ela aparece bastante surpresa quando ouve o anúncio do anjo Gabriel. Não havia honra maior para uma mulher israelita do que chegar a ser a mãe do Messias. O que o anjo Gabriel e Israel dizem a Maria ressalta a grandeza deste privilégio.
Em segundo lugar, as palavras dirigidas a Maria. Vejamos em primeiro lugar as palavras do anjo Gabriel: “Salve, muito favorecida” (1.28). A palavra traduzida por “salve!” é uma expressão de saudação. O grego (chaire) pode ser neste caso um equivalente do hebraico shalom lak: “a paz seja contigo”, que também é uma saudação. Não obstante, parece que a saudação angelical a Maria (chaire) tem o significado de “regozijo” ou “alegria”. É a alusão à alegria messiânica que se inicia. É como se o anjo dissesse a Maria: “Regozija-te pelo favor que te foi conferido”. Talvez uma tradução mais literal fosse: “Te saúdo, muito favorecida”.
A expressão “muito favorecida” é usada para traduzir um particípio grego que se encontra no perfeito e na voz passiva (kecharitômeun). O particípio indica que o Senhor já escolheu a Maria para que seja a mãe do Messias. Como o verbo está no particípio, se expressa assim que Maria havia sido eleita há muito tempo. Está claro que Maria é objeto da graça divina! Ela recebe, à parte de todo mérito humano, o favor do Senhor. Isto posto, verificamos que não há mérito na pessoa de Maria para sua salvação nem para a salvação de outros.
A tradução gratia plena (“cheia de graça”) na Vulgata Latina lamentavelmente não é fiel ao texto original, porém tem sido conservado nas versões católicas, como por exemplo, na edição da editora AVE-MARIA, a Bíblia dos Monges de Maredsous, religiosos beneditinos da Bélgica, muito usada hoje por alguns católicos romanos, mormente pelos católicos carismáticos. Da tradução oferecida da Vulgata surge a ideia de que Maria está cheia de graça para a bênção dos pecadores. Ela é a fonte mais do que o objeto da graça. Ledo engano. A tradução “gratia plena”, na Vulgata, é correta se significa ‘cheia de graça que tens recebido’. O texto grego indica simplesmente que Maria é objeto do favor de Deus. Tampouco é necessário encontrar a ideia de plenitude no verbo original.
“O Senhor é contigo” (Lucas 1.28). Num texto como este, a expressão “o Senhor é contigo” contém muito mais do que uma saudação ao estilo vetero-testamentário (Rute 2.13). Pode indicar um favor especial ou uma promessa que vem do Senhor para o cumprimento de uma tarefa que Ele tem confirmado. Trata-se mais de uma afirmação do que um desejo. Ela prepara a pessoa que a ouve para servir Deus de uma determinada forma, com a certeza de que Ele a ajudará.
É impossível deixarmos de lado que um dos nomes do Messias é Emanuel: “Deus conosco” (Mateus 1.23; Isaías 7.14). Geralmente dizemos que a graça de Deus é um favor que recebemos Dele, sem o merecermos. Outros sublinham que a graça significa também que Deus tem Se colocado ao nosso lado, que Ele está ao nosso favor em Cristo. Ele não está contra nós, mas conosco, por nós.
Para assumir a maternidade messiânica e manter-se em sujeição à vontade divina, mesmo diante das críticas que viriam por causa da gravidez, repudiável aos olhos da sociedade israelita, Maria necessitava mais do que nunca a presença e o poder do Senhor.
“Mas o anjo lhe disse: Maria, não temos; porque achaste graça diante de Deus”! (Lucas 1.3). Usa-se frequentemente o “não temas”, em ambos os testamentos, para tranquilizar a pessoa que está conturbada por uma revelação especial (Lucas 1.3; 2.10, Atos 18.9). A expressão ”achaste graça” tem uma tônica vetero-testamentaria. Maria não disse, como no caso de outros personagens bíblicos, “sim, achei graça aos teus olhos”. A ênfase recai sobre a iniciativa de Deus, na Sua livre escolha, para a manifestação do Seu favor imerecido. A ênfase não está no ato pelo qual o ser humano recebe a graça de Deus. A ênfase não está no ato pelo qual o ser humano recebe a graça de Deus. Tudo é de graça, à parte de qualquer mérito humano.
“Bendita és tua entre as mulheres” (Lucas 1.42) O particípio grego que se traduz “bendita” está na voz passiva e significa que Maria é a receptadora do favor de Deus. Ela é a favorecida do Senhor como instrumento para a encarnação do Logos eterno. O mesmo verbo é aplicado aos crentes, em Efésios 1.3. Paulo diz que o Senhor “nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Em Lucas 1.42, o particípio tem um sentido superlativo: “Tu és a mais bendita entre todas as mulheres”. Esta bênção especial se deve ao filho de Maria! Também sobre Ele Isabel diz que é “bendito”. Nenhuma outra mulher teve ou terá o enorme privilégio de levar ao seu seio o Messias, o Rei dos reis e Senhor dos senhores! Maria é, portanto, a mais famosa de todas as mães na história da humanidade!
Isabel também a chama de “bem-aventurada” (v.45), isto é, “ditosa” ou “mais do que ditosa”. Era de se esperar que uma mulher israelita se sentisse muito feliz por seu estado de gravidez. A mãe do Messias tinha razão ainda maior para se regozijar! Maria era “bem-aventurada” porque creu no cumprimento das promessas do Senhor Deus. Era uma mulher de fé! Esta é uma de suas grandes virtudes! O objeto de sua fé era a palavra do Senhor. Cria em Deus e na Sua palavra! Por isso, Maria se levanta, diante de nossos olhos cheios de admiração, como um exemplo de fé, digno de ser imitado!
Em resumo, o anjo Gabriel e Isabel dizem que Maria era objeto da graça de Deus, que seu privilégio maternal era singular por várias razões e que Maria era imensamente ditosa por haver crido no Senhor. Isto e nada mais é dito a Maria nesta passagem tocantes aos privilégios de sua maternidade messiânica. Em nenhuma porção das Sagradas Escrituras há referência direta ou indireta aos supostos privilégios que a Igreja Católica Romana tem atribuído à mãe de Jesus, tais como sua concepção imaculada, sua virgindade perpétua, sua ascensão aos céus em corpo e alma e sua obra de mediação redentora. Ressaltar isso é sacrilégio, é heresia.
Em terceiro lugar, as palavras de Maria ao anjo. A Bíblia diz pouca coisa em relação à Maria, e esta diz pouca coisa na Bíblia. Na passagem que estamos considerando (Lucas 1.26-56), temos as palavras de Maria ao anjo e o cântico chamado Magnificat.
Maria pede uma explicação: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” (v. 34) Não é crédula. Sua fé na palavra de Deus não é irracional. Sua humildade não está em discordância com o desejo de conhecer mais dos propósitos e métodos do Senhor. A resposta do anjo é categórica e satisfatória para a virgem de Nazaré.
Maria responde com submissão: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. (v.38) Ela dá a si mesma o título de “serva do Senhor”. Maria está muito distante de arrogar a si honras que não lhe pertencem. Indubitavelmente ela se sentiria incomodada e até indignada se escutasse os títulos e privilégios que a mariologia católica romana e popular lhe atribui. Entre muitas outras coisas, famigerado Alfonso Maria de Ligório (século XVIII) diz que Maria é “Senhora”, “Rainha do céu”, “Rainha dos anjos”, ”estrela do mar”, “precursora do sol de justiça”, “dispensadora da graça”, “nossa única esperança” , “escada dos pecadores”, “ não se chega a Deus senão por intermédio, e não se chaga a Jesus Cristo a não ser por Maria”, “se Maria não interceder por nós não alcançaremos a salvação”, é “mãe onipotente pela onipotência do Filho... no sentido de que suas petições alcançam tudo que pedem”. E pasmem todos, por causa desses disparates todos e palavras sacrílegas, sem nem um sustentáculo da palavra de Deus, ainda assim foi considerado ‘santo’ e incluído no santoral da Igreja Católica Romana. É inacreditável, mas é verdade! Tudo isso está escrito do livro “Glórias de Maria” que se encontra em qualquer boa livraria católica, podendo ser consultado. De acordo com a “palavra da verdade do evangelho”, isto não passa de expressões de blasfêmias terríveis e inaceitáveis à Mãe de Jesus, pois não tem nenhum sustentáculo, repito, nas Sagradas Escrituras.
Depois de se apresentar como “serva do Senhor”, Maria declara: “...que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. (v.38). Diz a versão latina: “fiat (faça-se) mihi secundum verbum tuum”! Este é o famoso “fiat” que a teologia católico-romana magnifica para dar a Maria parte na obra redentora. O “fiat” de Maria, portanto, não se refere somente ao fato de ser mãe, mas de ser mãe de Jesus Cristo, com consciência plena do ministério de seu Filho. Isto não significa que Maria tenha entendido tudo plenamente, mas que compreendeu que o dito mistério se realizava nela.
Uma aplicação prática destas cogitações enganosas é que a nossa salvação depende do consentimento de Maria naquele momento decisivo na história da salvação. Que sua maternidade é soteriológica. A Bíblia nada diz acerca dos privilégios soteriológicos atribuídos à mãe de Jesus no Catolicismo Romano. Tudo se reduz a uma dedução de sua relação maternal com o Messias. Por outro lado apreciamos grandemente a parte importantíssima que ela teve como instrumento do poder divino na encarnação do verbo de Deus.
Por último, o cântico de Maria, chamado Magnificat, devido à sua primeira palavra na versão latina (magnificat anima mea Dominum), não é dirigido a Isabel, embora surja como reação à sua saudação. Também não se trata propriamente de uma prece a Deus. O cântico fala de Deus usando a terceira pessoa. Maria não faz pedidos ao Senhor. O cântico é um testemunho de fé em Deus e de louvor a Ele por Seus poderosos feitos a favor de Maria e do povo de Israel. Certamente o cântico é mais judaico do que cristão e mais nacionalista do que universal. Todavia, também é profético e o seu cumprimento messiânico se projeta a todo o mundo.
O Magnificat nos faz lembrar de imediato o cântico de Ana (I Samuel 2), e Maria faz uso de várias expressões veterotestamentárias. A natureza antológica deste hino de adoração tem uma unidade e beleza. Suas palavras parecem refletir a profunda piedade de uma alma que tem se saciado nas fontes messiânicas do Antigo Testamento. O cântico tem duas partes principais. Na primeira, Maria exalta ao Senhor e se regozija nEle (vv. 46,47); na segunda parte, explica os motivos de sua adoração (vv. 48-55).
Vejamos a natureza da adoração (vv.46,47). A partir do mais profundo do seu interior e com todo o seu ser, Maria glorifica ao Senhor: “A minha alma engrandece ao Senhor”. Como num êxtase e impulsionada pelo Espírito Santo, Maria, com alegria, irrompe em adoração a Deus. É um testemunho de fé: “e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Da mesma forma que todos os seres humanos, Maria necessita de salvação que Deus provê por sua graça numa resposta de fé! Não há o que negar sobre isso, está bem claro!
Vejamos os motivos da adoração (vv.48-55). Em primeiro lugar, Maria magnifica o Senhor pelos grandes favores que tem recebido dEle. “Porque contemplou na humildade de tua serva”. Mais uma vez, ela se declara “serva do Senhor”. Sua humildade é evidente! No entanto, a palavra que é traduzida por “humildade” não parece se referir à virtude da humildade, mas a sua situação de desvantagem na sociedade. Maria era de família pobre, que morava num povoado menosprezado pelos israelitas de outros lugares da palestina (“de Nazaré pode sair algo de bom?”); era uma jovem desconhecida e lhe faltava tudo aquilo que poderia lhe dar fama ou renome no mundo. Esta situação ressalta a graça de Deus. A mãe do Messias não foi escolhida entre as altas camadas sociais de Jerusalém. Maria não era uma princesa, mas uma escrava, isto é, uma serva. Definitivamente o Messias viria como “justo e salvador, humilde” (Zacarias 9.9) para identificar-se especialmente com os pobres e oferecer a sua vida por todos, ticos e pobres igualmente.
Com Sua graça divina, Deus olhou para Maria, a humilde jovem do vilarejo menosprezado da Galileia e por isso ela seria uma das personagens mais famosas da história mundial! A sua fidelidade seria celebrada por “todas as nações”.
Continuando, Maria louva o Senhor porque o Poderoso tem feito “grandes coisas”, e uma delas era nada menos do que o milagre da encarnação do Filho de Deus! Somente Ele poderia efetuar este portento!
Maria pensa também nos outros, não somente em si mesma. O Deus poderoso e santo tem mostrado a Sua misericórdia “de geração em geração” para todos os que O temem, isto é, aos que Lhe mostram temor reverente. Mas Ele também é Deus justo que estende o Seu braço para juízo, dispersando os soberbos e derrubando dos tronos os poderosos. Exalta os humildes e humilha os soberbos. Enche de bens os pobres e despoja os ricos de seus tesouros. Existe no Magnificat uma forte ênfase política e social impossível de ocultar.
Os verbos estão no passado, mas têm um sentido profético. Projetam-se a um futuro messiânico. É inegável que, com a encarnação do Verbo, irrompe uma nova era na história da humanidade. Foi inaugurado o reino presente do Messias no mundo (Mateus 13; Colossenses 1.13...), e está por vir o Seu reino terreno, político, anunciado pelos profetas do Antigo Testamento e pelo próprio Messias na sua primeira vinda (Mateus 19.28; Lucas 22.18).
Nos versículos 54 e 55, Maria se volta para a nação de Israel que é de forma especial o objeto da misericórdia de Deus. O milagre da encarnação de acha dentro do cumprimento das promessas do Senhor ao Seu servo Israel. De uma maneira antropomórfica é dito que Ele Se lembrou de Sua misericórdia. Em contextos como o de Lucas 1.46-55, a palavra “misericórdia” pode corresponder ao hesed (fidelidade, lealdade, misericórdia) do Antigo Testamento, em relação aos pactos que Deus fez com o Seu povo. Quando se estabelecia um pacto entre um senhor e seu subordinado, e este último quebrava o pacto, o senhor podia mostrar não somente fidelidade à sua promessa, como também misericórdia para com o transgressor. Daí vem o significado de misericórdia que hesed veio a ter. Podia também se referir á atitude compassiva do senhor diante do servo que se encontrava em aflição. Neste caso o pacto gerava misericórdia.
Numa perspectiva horizontal da história poderia parecer que Deus havia Se esquecido de Suas promessas. Porém, não foi o que aconteceu! Deus Se lembra de Sua misericórdia, sobre a qual havia falado aos pais, especialmente a partir do pacto com Abraão e sua descendência para sempre.
O Magnificat é um cântico essencialmente teísta. Seu tema central é a majestosa pessoa do Senhor, na magnificência dos Seus atributos, na realização de Sua obra redentora, na execução do Seu juízo implacável, no fiel cumprimento de Suas promessas messiânicas. Ele é poderoso e santo, misericordioso e justo, senhor e salvador!
Maria, a serva, assume a posição de uma escrava que humilde e alegremente exalta o seu Senhor. O Magnificat não engrandece a Maria, mas ao Senhor! Esta é a ênfase do cântico, de todo o relato de Lucas e de todo o Texto Sagrado, desde Gênesis até o Apocalipse. Por outro lado, dá-se à mãe de Jesus o lugar que lhe corresponde e a honra que ela merece na história da salvação.
Não há dúvida de que Maria, a “serva do Senhor”, estaria mais do que satisfeita com o retrato que os escritores bíblicos fazem dela. Num comentário sobre este retrato, ela exclamaria de novo: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.
Chegamos à conclusão que não é possível passar por cima do grande contraste que existe entre a doutrina e a veneração de Maria do Catolicismo Romano e a mariologia bíblica. É verdade que o relato que estudamos em termos gerais, afirma que, por sua maternidade messiânica, Maria é "bendita entre as mulheres”. Observem que Isabel, conforme o relato bíblico, não chamou Maria de “bendita acima de todas as mulheres” Porque “bendito” que está acima de todos os homens só existe apenas um, “o fruto do ventre de Maria”, ou seja, Jesus Cristo, Homem! Louvado seja o Nome do Senhor!
Da mesma forma, todas as gerações a chamariam “bem-aventuradas”, porque creu no que lhe foi revelado e pelas “grandes coisas” que lhe fez o poderoso. Impulsionada pelo Espírito Santo, Maria se eleva aos topos proféticos e exalta o seu Senhor e Salvador. Maria não é nada menos do que o vaso escolhido para o milagre da encarnação do Verbo de Deus! Todavia, não pensa de si mesma mais do que deve pensar. Não esquece sua origem humilde nem sua baixa condição social. Não se considerara “senhora”, mas “SERVA DO SENHOR”, e mesmo sendo a mãe do Rei (Lucas 1.31-33) não deixa de se considerar serva! Que maravilha! Ela se identifica mais do que nunca com o seu povo Israel!
Maria é crente e devota, humilde e obediente, submissa à vontade divina, mãe e esposa exemplar. Ensina-nos, em palavra e ação, o que significa se fiel a Deus, custe o que custar. Não procura atrair a atenção para a sua pessoa! Dirige a atenção para Deus a que magnifica pelo que Ele é e pelo que Ele tem feito e pelo que fará a favor dos que o temem!
Esta é a Maria, a serva do Senhor, das Sagradas Escrituras! Conheçamo-la de perto! Maria merece o nosso profundo respeito e a nossa sincera admiração! Seu exemplo de fé, obediência e devoção é digno de ser imitado, especialmente no que diz respeito à fé que, para sua salvação, ela depositou somente no Senhor! É desta Maria, a “serva do Senhor”, que as Escrituras Sagradas nos falam, bem diferente da Maria tornada deusa, das “nossas senhoras” do Catolicismo Romano.
Noutra oportunidade, traremos aqui comentários e apresentações, da “Maria do Catolicismo Romano” para que possamos fazer comparações dessa “deusa” estranha vinda do paganismo e cristianizada pelo Catolicismo Romano, nada tem a ver com a Maria de Nazaré, a “serva do Senhor”, apresentada e realçada pelas Sagradas Escrituras. Aguardem!
Um comentário:
vou ler posteriormente na sua totalidade.Parabéns pelo blog.
Pr. Cleverson
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