Pr. José Barbosa de Sena Neto
Censurado pelos estigmas da cruz, o
apóstolo Paulo censura aqui, afirmando com lágrimas, que há muita gente
adversária da cruz de Cristo. Os opositores da cruz de Cristo não são tipos
exóticos, isto é, estrangeiros. É gente da própria igreja e não do mundo. É um
grupo que tem a linguagem correta, mas um espírito de hostilidade.
O apóstolo Paulo se refere a eles como
“muitos”. São crentes na passarela e hereges nos bastidores. O apóstolo chora
diante deste quadro triste. Em sua biografia, nós o vemos cantar louvores
debaixo da bordoada, mas ele não suporta a dor causada pelos adversários da
cruz de Cristo. Ele destaca alguns traços para nos ajudar a identificar os
opositores da cruz de Cristo no seio da Igreja. Paulo nos indica: “O destino
deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua
infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”. (Filipenses 3.19).
Em primeiro lugar, “o destino deles é a
perdição”. O intento dos inimigos da cruz de Cristo é a não salvação dos
perdidos. Apesar de estarem na Igreja, eles não são salvos e, sendo assim, o
seu encargo principal é impedir aqueles que seriam salvos, de serem salvos.
Eles procuram ocultar a mensagem da cruz, para que os perdidos não sejam
alcançados pela graça.
Eles até pregam a mensagem, mas o espírito
como anunciam não é de um crucificado: são invejosos e disputam um lugar no
espaço como se precisasse de reconhecimento dos irmãos. Se Deus tivesse outro
meio para salvação dos pecadores fora de Cristo crucificado e não tenha usado
este método, então, temos que admitir que Deus seja mau, muito mau, porque
submeteu o seu Filho a um sofrimento atroz, tendo ele outra escolha. Porém, se
esta é a única opção, não há como não apresentá-la aos perdidos, já que esta é
a alternativa sine qua non para a salvação dos pecadores.
Como os inimigos da cruz de Cristo são o
joio no meio do trigo ou os lobos com peles de cordeiros, eles não somente
fingem que são salvos, como também atrapalham a salvação dos perdidos. Não
pregam o evangelho em sua essência, pois o que os motiva é a condenação eterna
dos incrédulos. Quem não evangeliza ou promove a evangelização dos perdidos,
por meio de Cristo crucificado, é um inimigo figadal da cruz de Cristo.
Em segundo lugar, “o deus deles é o
ventre”. Os contendedores da cruz de Cristo vivem da veneração de suas
entranhas. São pessoa devotas aos seus apetites, endeusando as suas ambições
carnais. Eles não sabem discernir o Pão do céu do pão dormido. Não sabem
distinguir o Maná de Deus do cardápio da religiosidade; a ceia do Senhor, dos
brioches da revolução francesa; o Pão nosso de cada dia, que é Cristo, do
sustento diário.
A propina também faz parte deste culto
idólatra do deus guloso. Desde Esaú, que vendeu a sua primogenitura por um
prato de comida, até os esfomeados pós-modernistas, que negociam a ênfase da
cruz por uma posição no pódio religioso, a tática é a mesma. É a profanação do
sagrado e a secularização do santo.
O “deus...ventre” é ainda
ventríloquo, pois a sua boca fala inspirando a marionete da hipocrisia
religiosa. Ao sonegar a pregação da cruz de Cristo, o divo das feições
falsificadas promove a conduta humanista como se fosse o verdadeiro estilo de
vida cristã. Essa é a tática mais perigosa dos inimigos da cruz de Cristo: a
proclamação do humanitarismo como se fosse o cristianismo em sua essência.
Em terceiro lugar, “a glória deles está na
sua infâmia”. Se há um fulgor que se realça no procedimento dos inimigos da
cruz de Cristo é o investimento na desonra dos outros. Os oponentes do
evangelho vivem saboreando o prato da vergonha alheia. Eles se estimulam com as
fofocas e se nutrem das sujeiras que gostam de destacar. Como abutres, apreciam a carniça e se deleitam
naquilo que causa embaraço e infâmia em alguém. Uma vez que o evangelho se
agrada em cobrir com amor as feridas da vergonha, os contrários às boas
notícias se especializam em espalhar o seu mau cheiro por todo lugar. “O ódio
excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões”. (Provérbios 10.12).
Uma das peculiaridades do evangelho é
garantir com amor a decência do humilhado. Não se tata de encobrir o pecado
alheio, mas de assumi-lo como sendo seu, enquanto avoca para si a divida do
devedor. Pedro vem nos ajudar: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns
para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (I Pedro 4.8). Não
é encobrir o pecado, mas cobri-lo. Não se trata de ocultação de cadáver, mas de
tomar a dívida do culpado, pagando-a como se fosse sua própria dívida. Foi
assim que o Senhor Jesus fez conosco.
Em quarto lugar, eles “só se preocupam com
as coisas terrenas”. Se você quiser reconhecer um inimigo da cruz de Cristo na
Igreja, veja a sua ênfase. A sua agenda enfoca apenas os assuntos relacionados
com o aqui e o agora. Para eles o patrimônio econômico é mais importante do que
os bens eternos. O dinheiro da ‘igreja’ vale mais do que a salvação de uma
alma. O saldo da conta bancária na terra tem mais significado do que os
depósitos em pessoas, enviados para o banco celestial. Os inimigos da cruz de
Cristo, que andam entre nós gente de
bons antecedentes criminais, mas também, são os mentores da não pregação do
evangelho de Cristo crucificado. Eles procuram impedir a proclamação da nossa
morte e ressurreição com Cristo, e , quando não conseguem, adaptam a mensagem
usando uma linguagem semelhante, enquanto boicotam os pregadores nos
bastidores.
Os piores inimigos da cruz de Cristo estão
no seio da Igreja. O apóstolo Paulo disse que eles eram “muitos”, quando a
população do mundo era pequena e os números da Igreja bem menores do que agora.
Acredito que temos uma multidão incalculável dos inimigos da cruz de Cristo
convivendo com os santos na Igreja contemporânea. Por isso mesmo, precisamos de
cuidado e acuidade espiritual para podermos não entrar no seu jogo. Rogo, pois,
pelas misericórdias do Senhor Deus, para que não percamos de vista a ênfase
divina na pessoa de Cristo e na Sua obra graciosa realizada na cruz do
calvário.
Que assim seja. Amém!
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