domingo, 23 de setembro de 2012

SAULO, O PERSEGUIDOR...


                                                   Pr. José Barbosa de Sena Neto


O apóstolo Paulo é o responsável por esta tão chocante afirmação: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo, e pondo em prisões, tanto homens como mulheres... Havendo recebido autorização dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a difamar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui” (Atos 22.4; 26.10-11). O que nos impressiona é o quanto um fanatismo religioso pode cegar e escravizar um homem! Eu que o diga, pois fui um perseguidor implacável do povo de Deus, mas assim “o fiz ignorantemente, na incredulidade” (I Timóteo 1.13).

Paulo, escrevendo aos irmãos em Filipos, descreve um pouco daquilo que ele conseguiu ao longo de sua vida enquanto esteve envolvido com o sistema religioso chamado judaísmo. No livro de Filipenses 3.4-6 está escrito: “Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.”

O que aconteceu a este homem, portador de tão distinto currículo? O que fez com que ele considerasse esterco tudo aquilo que alcançou através da sua religião? Por outro lado, como afirmar a sua afirmação categórica? “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filipenses 1.21). O que motivou Paulo a registrar tão profundas palavras? “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu u  nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o  Senhor, para glória de Deus Pai”! (Filipenses 2.9-11).

Para responder estas e outras questões, precisamos voltar para a estrada de Damasco, por ali aconteceu um encontro já agendado pelo Senhor antes da fundação do mundo. Isto está registrado no Livro de Atos 9.1-5. Observemos, inicialmente, que o ódio de Saulo era contra os discípulos do Senhor Jesus, e não propriamente contra Jesus. Para este homem furioso, Jesus era apenas um defunto. Saulo estava perseguindo apenas um grupo fanático e, na sua mente, um grupo herético. Ele também não sabia que perseguir a Igreja é perseguir o próprio Cristo. No entanto, já bem próximo de Damasco, de maneira inesperada, uma luz vinda do céu brilhou fortemente ao seu redor, e em consequência disto, Saulo caiu por terra.

Segundo biblistas famosos, o verbo cair, utilizado por Lucas nesta passagem, tem um significado extremamente importante, pois equivale a: cair como morto, cair em pedaços ou ter um colapso. O quadro prossegue, e nos mostra que durante a queda uma voz ecoou dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo então, perguntou: “Quem és tu, Senhor?” É possível que a resposta dada pelo Senhor tenha trazido um profundo espanto no coração de Saulo:  “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”.

Devemos saber que Saulo de Tarso era um homem extremamente preparado e conhecia os Escritos da velha dispensação. O livro de Atos 22.3 confirma isso: “Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus”.

A expressão EU SOU penetrou profundamente em seu ser. Saulo reconheceu perfeitamente aquela fala. Sabedor como era de toda lei, conhecia muito bem aquelas palavras. No livro de Êxodo 22.3a está registrado: “Eu sou o Senhor, teu Deus...”.  Como deve ter ficado o coração de Saulo diante de tão grande revelação? Saulo, completamente despedaçado, percebeu que estava frente a frente com o  Deus da Aliança, o Criador do universo.

Certa ocasião, Jesus falou a um grupo de judeus religiosos: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou”. (João 8.58). Verdadeiramente,  Saulo percebeu que não estava diante de um simples homem, ele estava diante do Deus Santo e Eterno. Neste encontro verificamos o fim de Saulo de Tarso. Este homem tremendamente religioso, mas possuidor de uma natureza caída, chegou ao fim de si mesmo, pois ninguém que tenha um encontrou com o Senhor consegue permanecer o mesmo! O grande e cruel perseguidor da Igreja, daquele momento em diante, seria um vaso escolhido por Deus para que anunciasse o seu Filho bendito por toda a parte: “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” (Atos 9.20).

O Senhor Jesus Cristo veio a este mundo para libertar o homem de todo o jugo de escravidão. As maiores e mais danosas algemas encontram-se nos sistemas religiosos. O compromisso do Senhor Jesus é nos dar vida, e não nos dar um sistema para seguirmos. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará ... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8. 32 e 36).

A Igreja de Cristo não é um sistema de religião, mas uma reunião de santos. Pessoas que foram regeneradas pela graça de Deus, e que se reúnem por causa de Cristo, por meio de Cristo e para Cristo. A Igreja de Cristo é composta de pessoas que foram libertadas (arrancadas) pelo próprio Deus “do império das trevas” e por Ele transportadas “para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13).

Qual tem sido a busca de nossa alma? Por regras, princípios, coisas espirituais? Será que não estamos muito agarrados nas obras da religião? Será que não estamos fazendo de Cristo apenas um coadjuvante em nossas reuniões? Creio que a maior necessidade da Igreja em nossa época é ganhar a visão de Cristo e ser dirigida por ela. Pois todas as coisas são Dele, por meio Dele e para Ele. Que Deus incline o nosso coração para uma única direção, o seu Filho Jesus Cristo! Que assim seja!



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