Pr. José Barbosa de Sena Neto
O apóstolo Paulo é o
responsável por esta tão chocante afirmação: “Persegui este Caminho até à
morte, prendendo, e pondo em prisões, tanto homens como mulheres... Havendo
recebido autorização dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos
nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles. E,
castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a difamar. E,
enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui”
(Atos 22.4; 26.10-11). O que nos impressiona é o quanto um fanatismo religioso
pode cegar e escravizar um homem! Eu que o diga, pois fui um perseguidor
implacável do povo de Deus, mas assim “o fiz ignorantemente, na incredulidade”
(I Timóteo 1.13).
Paulo, escrevendo aos irmãos
em Filipos, descreve um pouco daquilo que ele conseguiu ao longo de sua vida
enquanto esteve envolvido com o sistema religioso chamado judaísmo. No livro de
Filipenses 3.4-6 está escrito: “Ainda que também podia confiar na carne; se
algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao
oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus;
segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a
justiça que há na lei, irrepreensível.”
O que aconteceu a este homem,
portador de tão distinto currículo? O que fez com que ele considerasse esterco
tudo aquilo que alcançou através da sua religião? Por outro lado, como afirmar
a sua afirmação categórica? “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é
ganho” (Filipenses 1.21). O que motivou Paulo a registrar tão profundas
palavras? “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu u nome que é sobre todo o nome; para que ao
nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e
debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”! (Filipenses
2.9-11).
Para responder estas e outras
questões, precisamos voltar para a estrada de Damasco, por ali aconteceu um
encontro já agendado pelo Senhor antes da fundação do mundo. Isto está
registrado no Livro de Atos 9.1-5. Observemos, inicialmente, que o ódio de
Saulo era contra os discípulos do Senhor Jesus, e não propriamente contra
Jesus. Para este homem furioso, Jesus era apenas um defunto. Saulo estava perseguindo
apenas um grupo fanático e, na sua mente, um grupo herético. Ele também não
sabia que perseguir a Igreja é perseguir o próprio Cristo. No entanto, já bem
próximo de Damasco, de maneira inesperada, uma luz vinda do céu brilhou
fortemente ao seu redor, e em consequência disto, Saulo caiu por terra.
Segundo biblistas famosos, o
verbo cair, utilizado por Lucas nesta passagem, tem um significado extremamente
importante, pois equivale a: cair como morto, cair em pedaços ou ter um
colapso. O quadro prossegue, e nos mostra que durante a queda uma voz ecoou
dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo então, perguntou: “Quem és
tu, Senhor?” É possível que a resposta dada pelo Senhor tenha trazido um
profundo espanto no coração de Saulo:
“Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os
aguilhões”.
Devemos saber que Saulo de
Tarso era um homem extremamente preparado e conhecia os Escritos da velha
dispensação. O livro de Atos 22.3 confirma isso: “Quanto a mim, sou judeu,
nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel,
instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus”.
A expressão EU SOU penetrou
profundamente em seu ser. Saulo reconheceu perfeitamente aquela fala. Sabedor
como era de toda lei, conhecia muito bem aquelas palavras. No livro de Êxodo
22.3a está registrado: “Eu sou o Senhor, teu Deus...”. Como deve ter ficado o coração de Saulo
diante de tão grande revelação? Saulo, completamente despedaçado, percebeu que
estava frente a frente com o Deus da
Aliança, o Criador do universo.
Certa ocasião, Jesus falou a
um grupo de judeus religiosos: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que
Abraão existisse, eu sou”. (João 8.58). Verdadeiramente, Saulo percebeu que não estava diante de um
simples homem, ele estava diante do Deus Santo e Eterno. Neste encontro
verificamos o fim de Saulo de Tarso. Este homem tremendamente religioso, mas
possuidor de uma natureza caída, chegou ao fim de si mesmo, pois ninguém que
tenha um encontrou com o Senhor consegue permanecer o mesmo! O grande e cruel
perseguidor da Igreja, daquele momento em diante, seria um vaso escolhido por
Deus para que anunciasse o seu Filho bendito por toda a parte: “E logo nas
sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” (Atos 9.20).
O Senhor Jesus Cristo veio a
este mundo para libertar o homem de todo o jugo de escravidão. As maiores e
mais danosas algemas encontram-se nos sistemas religiosos. O compromisso do
Senhor Jesus é nos dar vida, e não nos dar um sistema para seguirmos. “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará ... Se, pois, o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8. 32 e 36).
A Igreja de Cristo não é um
sistema de religião, mas uma reunião de santos. Pessoas que foram regeneradas
pela graça de Deus, e que se reúnem por causa de Cristo, por meio de Cristo e
para Cristo. A Igreja de Cristo é composta de pessoas que foram libertadas
(arrancadas) pelo próprio Deus “do império das trevas” e por Ele transportadas
“para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13).
Qual tem sido a busca de nossa
alma? Por regras, princípios, coisas espirituais? Será que não estamos muito
agarrados nas obras da religião? Será que não estamos fazendo de Cristo apenas
um coadjuvante em nossas reuniões? Creio que a maior necessidade da Igreja em
nossa época é ganhar a visão de Cristo e ser dirigida por ela. Pois todas as
coisas são Dele, por meio Dele e para Ele. Que Deus incline o nosso coração
para uma única direção, o seu Filho Jesus Cristo! Que assim seja!
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