Pr. José Barbosa de Sena Neto
É
válido Jejuar, hoje? Não seria uma prática tipicamente judaica? Como e por que
jejuar, hoje? Que frutos obteremos com o jejum?
Embora
vivendo num mundo envolvido num grande conflito, Deus tem colocado à nossa
disposição, meios poderosos com os quais podemos ser mais do que vencedores. Um
destes meios é o jejum. Esta prática nos coloca em íntimo contato com o Deus
onipotente, a ponto de ligar nossa mão finita à mão infinita, nos tornando
durante esta ligação, tão onipotentes quanto o próprio Deus.
A mais fascinante experiência concedida a um mortal, é a de ser um instrumento
nas mãos de um Deus Todo Poderoso, e executar os atos da Divindade. Através
desta experiência, homens abriram o mar; fizeram que da rocha brotasse água;
que do céu caísse fogo; curaram os enfermos com o toque de sua mão ou até mesmo
com sua sombra; expulsaram demônios; ressuscitaram mortos; multiplicaram alimentos;
detiveram o sol, bem como o fizeram retroceder. Como meros mortais puderam
realizar obras tão grandiosas? Como puderam ter em suas mãos o controle dos
elementos da natureza e da própria vida? Através da sua ligação com um poder
infinito, através de uma comunhão de fé que abriu as comportas “dos celeiros
do céu, onde se acham armazenados todos os recursos da onipotência”.
Há
quem seja contrário ao jejum. Mas, quando buscamos a Deus com jejum e
oração, não mudamos a mente de Deus, mas a nossa. O jejum nos faz mais aptos
para receber, do que faz Deus mais pronto a conceder.
Temos
exemplos vívidos do poder que advém do jejum, na vida de homens como Moisés que
jejuou 40 dias (Êxodos 34.28); Esdras – 3 dias (Esdras 10.6); Elias – 40 dias
(I Reis 19.8); Daniel – 21 dias (Daniel 10.3), Ana jejuou quando queria ter um
filho, e o pediu a Deus (I Samuel 1.7); Davi jejuou também, em diversas
ocasiões (II Samuel 1.12; 12.22); toda a nação israelita jejuava no Dia da
Expiação (Levíticos 23.27 ss). Mas o jejum não está registrado apenas no Velho
Testamento, mas também no Novo Testamento: Jesus quando se encontrava no
deserto jejuou 40 dias e quarenta noites (Mateus 4.2; Lucas 4.2); João Batista
ensinou seus discípulos a jejuarem com frequência (Marcos 2.18; Lucas 5.33); E
houve quem criticasse os discípulos de Jesus por não jejuarem com
frequência (Mateus 9.14-15; Marcos 2.18-19; Lucas 5.33-35); Ana servia ao Senhor
no templo, com jejuns (Lucas 2.37); Paulo jejuou nos dias que se seguiram à sua
conversão na estrada de Damasco (Atos 9.9); Cornélio jejuou, antes de ter
aquela visão em Cesaréia (Atos 10.30). A Igreja de Antioquia jejuou antes de
comissionar a Paulo e Barnabé para a primeira viagem missionária (Atos 13.3).
Mais tarde, durante a viagem de Paulo para Roma, ele e outras pessoas que
estavam naquele navio jejuaram quatorze dias (Atos 27.33). Quando estas
pessoas passavam dias sem se alimentarem, ou noites gastas em oração conjunta,
voltavam desses períodos mais fortalecidos do que antes, mais dispostos do que
se tivessem gasto estas horas dormindo. Eles foram verdadeiramente sustentados
pela companhia do Senhor. Isso está escrito na Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus.
Por que descremos disso?
Por
toda a História, grandes homens de Deus buscaram seu poder e bênção através de
Jejum e oração. Lutero, Calvino e João Knox foram homens que jejuaram.
Desconhecemos disso? Jonathan Edwards jejuou vinte e duas horas antes de pregar
seu famoso sermão: “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. A influência
espiritual daquela mensagem não ficou restrita apenas à chama do avivamento que
se alastrou pelas colônias da Nova Inglaterra, mas ainda hoje continua a
acender centelha do avivamento na vida de muitos cristãos.
Algumas
pessoas afirmam que não devemos pregar sobre o jejum. Citam textos em que Jesus
ensina que não devemos nos gabar de nosso jejum: “Quando jejuardes, não vos
mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim
de parecer aos homens que jejuam. Em verdade digo que já receberam a
recompensa” (Mateus 6.16). Entretanto, Jesus não estava condenando o jejum,
mas, sim, aqueles que alardeavam seu jejum. Está claro que tal atitude
não glorificava a Deus, nem era prova de que eram sinceros em suas orações. Mas
Ele não se opôs a uma conclamação pública para o jejum.
Acredite
que é perfeitamente bíblico conclamar os cristãos para um jejum, sim. Isso
constitui um ato de fé; é um desafio a que se privem de uma necessidade vital,
a fim que que possam orar com mais eficácia. Ester pediu ao seu povo que
jejuassem (Ester 4.16); o Rei Josafá também convocou um jejum (II Crônicas
20.3) e Esdras também fez o mesmo (Esdras 8.21).
Deus
criou o homem com a necessidade inerente de ingerir alimentos para poder viver.
Essa necessidade diária forçou o homem, a criatura, a confiar em Deus, o
Criador, para fornecer-lhe alimento. Se não tivesse essa necessidade,
facilmente se esqueceria de Deus. Comer é muito agradável. Quem não gosta de
comer? Todos nós gostamos e às vezes, exageramos. É um dos prazeres que
Deus nos concedeu. Deus disse a Adão que ele poderia comer de quase todos os
frutos do jardim. Eles tinham sido criados para servir-lhes de alimento. Comer
era uma aprte natural da vida. Ele só não poderia comer do fruto da árvore do
conhecimento.
Quando
o Senhor Jesus iniciou seu ministério seu primeiro ato público foi participar
de uma festa de casamento em Caná da Galiléia (João 2.1-22). Certa ocasião,
quando uma multidão de cinco mil homens estava faminta, Jesus poderia tê-los
exortado a jejuar, falando dos benefícios espirituais que adviriam disso. Mas
não o fez. Pelo contrário, providenciou alimento para eles, ilustrando,
na prática, a provisão divina.
E
como todo alimento que comemos é um presente que nos vem da graça de Deus, a
nossa atitude, ao iniciarmos as refeições, deve ser de gratidão para com Deus.
Jesus deu o exemplo disso, quando deu graças antes de comer (João 6.11). Na
Bíblia, o jejum se acha muito associado à oração, senão vejamos: Salmo 35.13;
Mateus 6.5-18; I Coríntios 7.5). Quando uma pessoa jejua, está-se abstendo da
alimentação, que é tanto uma necessidade quanto um prazer. Essa
abundância constitui, pois, uma expressão contínua de sua oração interior.
O Jejum revela que nossa oração é profundamente sincera. O jejum é um
recurso pelo qual o espírito protege o corpo de ir-se excedendo nos
alimentos. Quando uma pessoa jejua, ela tem o corpo sob controle, e assim
pode realizar melhor a obra do Mestre.
Ultimamente
tem surgido muita confusão em torno do jejum. Há quem advogue a abstinência de
alimentos como uma forma de regime. Outros apresentam o jejum como um modo de
se obterem benefícios para o corpo. E algumas pessoas chegam ao fanatismo, nessa
questão. Precisamos ser cautelosos e evitar sensacionalismos. Nenhum dessas
maneira de encarar o jejum se encaixa dentro do ensino bíblico acerca dele.
Por
outro lado, muitos de nós, falamos bem pouco sobre o jejum, quando não
silenciamos de todo, achando que não é prática cristã e muitos de nós o
ignoramos por completo. Queremos a todo custo alijá-lo do nosso meio. Em
consequência disso, estamos ficando sem as bênçãos que poderíamos receber
melhor, se praticássemos o jejum e a oração corretamente. Há muito falta de
poder em nossos públicos, pouca mensagem, mas muito discurso vazio, até mesmo
eloquentes, mas por falta de jejum e oração, nos tornamos pregoeiros
incrédulos e de corações endurecidos e não transmitimos a Palavra de Deus com
poder e unção.
Contudo,
há vários pontos sobre o jejum que devemos considerar, para que tenhamos uma
visão completa e coerente sobre esta importante prática do viver cristão.
Primeiramente,
devemos compreender quais são os objetivos do jejum. De acordo com a orientação
e exemplos conhecidos da Palavra de Deus, descobrimos os seguintes objetivos:
1º
Ter a mente desimpedida da sobrecarga que o processo digestivo exige, para
facilitar a comunhão, a meditação e a reflexão com Deus.
2º
Mostrar a Deus e provar para nós mesmos, que aquilo que pedimos, ou as vitórias
que almejamos, são realmente de suma importância para nós. Muitas vezes não
sabemos exatamente o que queremos, e num período de jejum e oração, nossa mente
se abre, ouvimos o nosso próprio coração e a voz de Deus, que nos convence da
necessidade ou não, daquilo que desejamos.
3º
Separar um momento especial que nos desligue do trivial e secular, e nos
coloque numa atmosfera mais intensamente espiritual.
4º
Adquirir mais disciplina e controle sobre nossos desejos e nossa vontade.
Quando dominamos nosso apetite, assumimos um domínio saudável sobre nossa
vontade, colocando-a em submissão à vontade divina.
5º
Conceder ao sistema digestivo uma pausa para descanso. Muitas enfermidades
podem ser evitadas e até curadas, com um período saudável de abstenção de
alimentos.
6º
Acima de tudo, nos colocar num íntimo e intensivo contato com Deus. Quando
perturbado pela tentação, quando em necessidade de vencer um pecado acariciado,
ou um hábito por anos arraigado, quando diante de uma grande provação, ou uma
importante decisão, nada poderá ser mais efetivo em nossa vida do que estar bem
perto de Jesus através do jejum e oração. Experimente isso e verá.
Agora,
quanto à duração do jejum, não podemos estabelecer o mesmo tempo para todas as
pessoas, pois o mesmo depende da constituição e do estado físico de cada um.
Existem então alguns fatores que devemos levar em consideração, antes de
estabelecermos um período de jejum que seja mais adequado com a nossa
realidade.
1º
O estado de saúde. Para que o jejum tenha o efeito desejado, a pessoa tem que
estar bem fisicamente, pois caso contrário vai debilitar tanto a pessoa, que
ela não terá disposição para comungar com Deus.
2º
A constituição física. Nem todos podem suportar um jejum de 24 horas, devido
sua estrutura física. Uma pessoa muito magra, desnutrida, ou mal desenvolvida
não pode passar por um período longo sem se alimentar. Ninguém deve fazer um
jejum total, com abstinência de alimentos e de água porque pode até lhe trazer
perigo, sem antes conversar com um médico antes de fazer um jejum completo.
3º
A atividade física. Uma pessoa que exerce um trabalho braçal, tem necessidade
alimentícia diferente de uma pessoa de vida sedentária.
Levando
tudo isto em consideração, podemos então estabelecer os motivos e a duração do
jejum, obedecendo os critérios acima mencionados. Sendo assim, a duração do
jejum pode ser de 24, 12, ou até de 6 horas, e pode ser também de total
abstenção de alimentos sólidos ou líquidos, como pode também ser de abstenção
parcial tanto de líquidos quanto de sólidos. A Bíblia ensina que o jejum normal
consiste em abster-se totalmente de alimento sólido. O jejum normal não
implicava em abstinência de líquidos. Na ocasião em que Jesus jejuou quarenta
dias e quarenta noites no deserto, lemos o seguinte: “E, depois de jejuar
quarenta dias e quarentas noites, teve fome” (Mateus 4.2). A Bíblia não
menciona que Ele teve sede. Seria fisicamente impossível jejuar quarenta dias e
quarenta noites sem ingerir líquidos. A maioria dos biblistas, acredita quer
Jesus bebeu água no deserto, mas não ingeriu alimento sólido.
Certas
pessoas podem ficar em total abstenção e mesmo assim não perder sua disposição
mental e física. Outros já não conseguem ter a concentração e disposição
necessárias, devido o despreparo do seu corpo ou a fraqueza que o jejum total
pode provocar nelas. Neste caso, ela pode tanto diminuir o tempo do jejum, como
pode se alimentar com algo bem leve como, frutas, sucos ou algum tipo de
alimento que não sobrecarregue o organismo e ao mesmo tempo alimente, ainda que
levemente.
“Pode
não ser requerida a completa abstinência de alimento, mas devem comer
parcamente, do alimento mais simples”. (CSRA 188-9)
Outro
ponto a considerar é o costume da pessoa em relação ao jejum. Se a pessoa nunca
jejuou, ela pode começar com um jejum de tempo reduzido, ou de abstenção
parcial, e paulatinamente ir estendendo a duração e a abstenção de alimentos,
de acordo com a sua realidade, até chegar à compreensão do seu limite.
Devemos
sempre nos lembrar que a forma e a duração do jejum, só podem ser estabelecidos
pela própria pessoa, sem jamais ser legislado e imposto por outros. Também não
é preciso que seja anunciado publicamente por palavras, nem por um rosto
abatido e triste, pois esta é uma experiência particular entre Deus e o
adorador. Sendo assim, o jejum deve trazer alegria, confiança e entusiasmo na
vida daquele que participa desta experiência maravilhosa com seu Criador
(Mateus 6:16-18).
Outra
grande complicação é com relação se o jejum inclui também a abstinência das
relações sexuais entre marido e mulher. Isso é muito complicado, mormente em se
tratando de um ou outro não ser cristão. E tem gente por aí afora ensinando
quando do jejum, devem ser suprimidas as relações sexuais. Correto? Sim e não.
Quando o casal é crente, é cristão, tudo bem, porque há o “mútuo
consentimento”. Mas quando um não é cristão, é terrivelmente complicado.
Cuidado com os ‘ensinadores’ de coisas absurdas. Vejamos o que Paulo
ensina: “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo
consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente,
vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”
(I Coríntios 7.5). Assim como algumas pessoas se abstêm do prazer da
alimentação, assim também, num jejum parcial, o casal pode se abster das
alegrias do casamento ou relações sexuais, sendo crentes, “por algum
tempo”. Cuidado com o longo tempo. Como em todas as coisas, o espiritual deve
governar o físico, pois nosso corpo é templo de Deus. O marido e a esposa crentes
ou havendo “mútuo consentimento”, podem até abster-se das
relações sexuais a fim de dedicar toda a sua atenção à oração e jejum, mas não
devem fazer disso uma desculpa para longos períodos de abstinência “para que
Satanás não vos tente por causa da incontinência”. Nunca ouvi falar que um
crente e um incrédulo oram juntos... Aqui todo cuidado é pouco e o Senhor Deus
nos deu perfeita sabedoria e bom senso. Há muita gente ensinando as irmãs que
tem maridos incrédulos ou vice versa incrédulos a utilizar da abstinência das
relações sexuais... No meu ponto de vista, isso é tremendamente incorreto,
porque Paulo ensina: “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e
sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu
próprio corpo, e sim a mulher”). I Cor. 7.4) Paulo ensina e incentiva os
cônjuges a estar em sintonia um com o outro tanto nas questões
espirituais quanto físicas. Não nos esqueçamos jamais do “algum tempo”.
Finalmente,
se a pessoa não está disposta a entregar-se à oração por longos períodos
durante o jejum, não deve jejuar. A mera privação de alimentos não tem nenhum
valor, se não for acompanhada por um exercício espiritual nas mesmas proporções.
Por outro lado, a abstinência de alimentos às vezes é associada com a ideia de
se fazer ‘boas obras’, para agradar a Deus. Isso é ranço de
catolicismo... Quando uma pessoa se priva de alimentos, está fazendo um ato que
demonstra a sinceridade de sua fé. “Porque o reino de Deus não é comida nem
bebida; justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17).
Se
uma pessoa jejuar confiando em que isso lhe trará a salvação, esse jejum é obra
da carne. A Bíblia ensina que não é “por obras de justiça praticadas por nós”
(Tito 4.5), mas “ao que não trabalha, porém crê” (Romanos 4.5). Não
podemos ser salvos por meio de obras. A credulidade do jejum não está na
abstenção pura e simples, mas na sinceridade da pessoa que manifesta sua fé. O
fato de algumas pessoas o praticarem apenas por legalismo, não invalida o
jejum. Quando alguém crê que Deus será louvado pela consagração de seu corpo,
pelo tempo passado em oração e pela abstinência de alimentos, seu jejum se
torna um ato de fé.
Alguns
querem que os outros jejuem, exatamente como eles o fazem. Na verdade, a Bíblia
não nos diz quanto tempo devemos jejuar, nem quantas vezes e nem nos obriga a
jejuar. O que é bênção para um, pode prejudicar a espiritualidade de outro, se
se tornar uma imposição. Quem quiser jejuar, deve fazê-lo com a motivação
correta, de modo bíblico, mas não deve forçar ninguém a fazer o mesmo. É o que
eu penso. É o que faço. E sinto-me bem diante do Senhor Deus em assim e assim
fazê-lo.
Gostaria
de desafiá-lo a “alimentar-se” de Jesus Cristo durante o dia do jejum, quando
assim e assim desejar fazê-lo. No dia em que Jesus se sentou à beira do
poço de Jacó, em Siquém, os discípulos tinham saído em busca de alimento.
Quando os discípulos chegaram, disseram-lhe que comesse, ao que Ele respondeu:
“Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis” (João 4.23). Ninguém lhe
dera comida. O alimento que satisfizera Jesus fora fazer a vontade de Deus
(João 34). Por isso é que creio que jejuar não implica apenas em abstermo-nos
de alimento, mas também em nos consagrarmos à oração, buscando assim a face do
Senhor!
Minha
oração é que o Senhor Deus o ajude a reconhecer, de uma vez por todas, os
benefícios que o jejum e a oração pode lhes trazer.
Experimente.
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