quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

JEJUM É BÍBLICO, É UMA PRÁTICA CRISTÃ?

Pr. José Barbosa de Sena Neto
 
 
É válido Jejuar, hoje? Não seria uma prática tipicamente judaica? Como e por que jejuar, hoje? Que frutos obteremos com o jejum?
 
Embora vivendo num mundo envolvido num grande conflito, Deus tem colocado à nossa disposição, meios poderosos com os quais podemos ser mais do que vencedores. Um destes meios é o jejum. Esta prática nos coloca em íntimo contato com o Deus onipotente, a ponto de ligar nossa mão finita à mão infinita, nos tornando durante esta ligação, tão onipotentes quanto o próprio Deus.
 
A mais fascinante experiência concedida a um mortal, é a de ser um instrumento nas mãos de um Deus Todo Poderoso, e executar os atos da Divindade. Através desta experiência, homens abriram o mar; fizeram que da rocha brotasse água; que do céu caísse fogo; curaram os enfermos com o toque de sua mão ou até mesmo com sua sombra; expulsaram demônios; ressuscitaram mortos; multiplicaram alimentos; detiveram o sol, bem como o fizeram retroceder. Como meros mortais puderam realizar obras tão grandiosas? Como puderam ter em suas mãos o controle dos elementos da natureza e da própria vida? Através da sua ligação com um poder infinito, através de uma comunhão de fé que abriu as comportas “dos celeiros do céu, onde se acham armazenados todos os recursos da onipotência”.
 
Há quem seja contrário ao jejum.  Mas, quando buscamos a Deus com jejum e oração, não mudamos a mente de Deus, mas a nossa. O jejum nos faz mais aptos para receber, do que faz Deus mais pronto a conceder.
 
Temos exemplos vívidos do poder que advém do jejum, na vida de homens como Moisés que jejuou 40 dias (Êxodos 34.28); Esdras – 3 dias (Esdras 10.6); Elias – 40 dias (I Reis 19.8); Daniel – 21 dias (Daniel 10.3), Ana jejuou quando queria ter um filho, e o pediu a Deus (I Samuel 1.7); Davi jejuou também, em diversas ocasiões (II Samuel 1.12; 12.22); toda a nação israelita jejuava no Dia da Expiação (Levíticos 23.27 ss). Mas o jejum não está registrado apenas no Velho Testamento, mas também no Novo Testamento: Jesus quando se encontrava no deserto jejuou 40 dias e quarenta noites (Mateus 4.2; Lucas 4.2); João Batista ensinou seus discípulos a jejuarem com frequência (Marcos 2.18; Lucas 5.33); E houve quem criticasse os discípulos  de Jesus por não jejuarem com frequência (Mateus 9.14-15; Marcos 2.18-19; Lucas 5.33-35); Ana servia ao Senhor no templo, com jejuns (Lucas 2.37); Paulo jejuou nos dias que se seguiram à sua conversão na estrada de Damasco (Atos 9.9); Cornélio jejuou, antes de ter aquela visão em Cesaréia (Atos 10.30). A Igreja de Antioquia jejuou antes de comissionar a Paulo e Barnabé para a primeira viagem missionária (Atos 13.3). Mais tarde, durante a viagem de Paulo para Roma, ele e outras pessoas que estavam naquele navio jejuaram quatorze dias (Atos 27.33).  Quando estas pessoas passavam dias sem se alimentarem, ou noites gastas em oração conjunta, voltavam desses períodos mais fortalecidos do que antes, mais dispostos do que se tivessem gasto estas horas dormindo. Eles foram verdadeiramente sustentados pela companhia do Senhor. Isso está escrito na Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. Por que descremos disso?
 
Por toda a História, grandes homens de Deus buscaram seu poder e bênção através de Jejum e oração. Lutero, Calvino e João Knox foram homens que jejuaram. Desconhecemos disso? Jonathan Edwards jejuou vinte e duas horas antes de pregar seu famoso sermão: “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. A influência espiritual daquela mensagem não ficou restrita apenas à chama do avivamento que se alastrou pelas colônias da Nova Inglaterra, mas ainda hoje continua a acender centelha do avivamento na vida de muitos cristãos.
 
Algumas pessoas afirmam que não devemos pregar sobre o jejum. Citam textos em que Jesus ensina que não devemos nos gabar de nosso jejum: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade digo que já receberam a recompensa” (Mateus 6.16). Entretanto, Jesus não estava condenando o jejum, mas, sim, aqueles que alardeavam seu jejum. Está claro que tal atitude não glorificava a Deus, nem era prova de que eram sinceros em suas orações. Mas Ele não se opôs a uma conclamação pública para o jejum.
 
Acredite que é perfeitamente bíblico conclamar os cristãos para um jejum, sim. Isso constitui um ato de fé; é um desafio a que se privem de uma necessidade vital, a fim que que possam orar com mais eficácia. Ester pediu ao seu povo que jejuassem (Ester 4.16); o Rei Josafá também convocou um jejum (II Crônicas 20.3) e Esdras também fez o mesmo (Esdras 8.21).
 
Deus criou o homem com a necessidade inerente de ingerir alimentos para poder viver. Essa necessidade diária forçou o homem, a criatura, a confiar em Deus, o Criador, para fornecer-lhe alimento. Se não tivesse essa necessidade, facilmente se esqueceria de Deus. Comer é muito agradável. Quem não gosta de comer? Todos nós gostamos e às vezes, exageramos. É um dos prazeres  que Deus nos concedeu. Deus disse a Adão que ele poderia comer de quase todos os frutos do jardim. Eles tinham sido criados para servir-lhes de alimento. Comer era uma aprte natural da vida. Ele só não poderia comer do fruto da árvore do conhecimento.
 
Quando o Senhor Jesus iniciou seu ministério seu primeiro ato público foi participar de uma festa de casamento em Caná da Galiléia (João 2.1-22). Certa ocasião, quando uma multidão de cinco mil homens estava faminta, Jesus poderia tê-los exortado a jejuar, falando dos benefícios espirituais que adviriam disso. Mas não o fez. Pelo contrário, providenciou  alimento para eles, ilustrando, na prática, a provisão divina.
 
E como todo alimento que comemos é um presente que nos vem da graça de Deus, a nossa atitude, ao iniciarmos as refeições, deve ser de gratidão para com Deus. Jesus deu o exemplo disso, quando deu graças antes de comer (João 6.11). Na Bíblia, o jejum se acha muito associado à oração, senão vejamos: Salmo 35.13; Mateus 6.5-18; I Coríntios 7.5). Quando uma pessoa jejua, está-se abstendo da alimentação, que é tanto uma necessidade quanto um  prazer. Essa abundância constitui, pois, uma expressão contínua de sua oração interior. O  Jejum revela que nossa oração é profundamente sincera. O jejum é um recurso pelo qual o espírito protege o corpo de  ir-se excedendo nos alimentos. Quando uma pessoa jejua, ela tem o corpo sob controle, e assim  pode realizar melhor a obra do Mestre.
 
Ultimamente tem surgido muita confusão em torno do jejum. Há quem advogue a abstinência de alimentos como uma forma de regime. Outros apresentam o jejum como um modo de se obterem benefícios para o corpo. E algumas pessoas chegam ao fanatismo, nessa questão. Precisamos ser cautelosos e evitar sensacionalismos. Nenhum dessas maneira de encarar o jejum se encaixa dentro do ensino bíblico acerca dele.
 
Por outro lado, muitos de nós, falamos bem pouco sobre o jejum, quando não silenciamos de todo, achando que não é prática cristã e muitos de nós o ignoramos por completo. Queremos a todo custo alijá-lo do nosso meio. Em consequência disso, estamos ficando sem as bênçãos que poderíamos receber melhor, se praticássemos o jejum e a oração corretamente. Há muito falta de poder em nossos públicos, pouca mensagem, mas muito discurso vazio, até mesmo eloquentes, mas por falta de jejum e oração,  nos tornamos pregoeiros incrédulos e de corações endurecidos e não transmitimos a Palavra de Deus com poder e unção.                     
 
Contudo, há vários pontos sobre o jejum que devemos considerar, para que tenhamos uma visão completa e coerente sobre esta importante prática do viver cristão.
 
Primeiramente, devemos compreender quais são os objetivos do jejum. De acordo com a orientação e exemplos conhecidos da Palavra de Deus, descobrimos os seguintes objetivos:
 
1º Ter a mente desimpedida da sobrecarga que o processo digestivo exige, para facilitar a comunhão, a meditação e a reflexão com Deus.
 
2º Mostrar a Deus e provar para nós mesmos, que aquilo que pedimos, ou as vitórias que almejamos, são realmente de suma importância para nós. Muitas vezes não sabemos exatamente o que queremos, e num período de jejum e oração, nossa mente se abre, ouvimos o nosso próprio coração e a voz de Deus, que nos convence da necessidade ou não, daquilo que desejamos.
 
3º Separar um momento especial que nos desligue do trivial e secular, e nos coloque numa atmosfera mais intensamente espiritual.
 
4º Adquirir mais disciplina e controle sobre nossos desejos e nossa vontade. Quando dominamos nosso apetite, assumimos um domínio saudável sobre nossa vontade, colocando-a em submissão à vontade divina.
 
5º Conceder ao sistema digestivo uma pausa para descanso. Muitas enfermidades podem ser evitadas e até curadas, com um período saudável de abstenção de alimentos.
 
6º Acima de tudo, nos colocar num íntimo e intensivo contato com Deus. Quando perturbado pela tentação, quando em necessidade de vencer um pecado acariciado, ou um hábito por anos arraigado, quando diante de uma grande provação, ou uma importante decisão, nada poderá ser mais efetivo em nossa vida do que estar bem perto de Jesus através do jejum e oração. Experimente isso e verá.
 
Agora, quanto à duração do jejum, não podemos estabelecer o mesmo tempo para todas as pessoas, pois o mesmo depende da constituição e do estado físico de cada um. Existem então alguns fatores que devemos levar em consideração, antes de estabelecermos um período de jejum que seja mais adequado com a nossa realidade.
 
1º O estado de saúde. Para que o jejum tenha o efeito desejado, a pessoa tem que estar bem fisicamente, pois caso contrário vai debilitar tanto a pessoa, que ela não terá disposição para comungar com Deus.
 
2º A constituição física. Nem todos podem suportar um jejum de 24 horas, devido sua estrutura física. Uma pessoa muito magra, desnutrida, ou mal desenvolvida não pode passar por um período longo sem se alimentar. Ninguém deve fazer um jejum total, com abstinência de alimentos e de água porque pode até lhe trazer perigo, sem antes conversar com um médico antes de fazer um jejum completo.   
 
3º A atividade física. Uma pessoa que exerce um trabalho braçal, tem necessidade alimentícia diferente de uma pessoa de vida sedentária.
 
Levando tudo isto em consideração, podemos então estabelecer os motivos e a duração do jejum, obedecendo os critérios acima mencionados. Sendo assim, a duração do jejum pode ser de 24, 12, ou até de 6 horas, e pode ser também de total abstenção de alimentos sólidos ou líquidos, como pode também ser de abstenção parcial tanto de líquidos quanto de sólidos. A Bíblia ensina que o jejum normal consiste em abster-se totalmente de alimento sólido. O jejum normal não implicava em abstinência de líquidos. Na ocasião em que Jesus jejuou quarenta dias e quarenta  noites no deserto, lemos o seguinte: “E, depois de jejuar quarenta dias e quarentas noites, teve fome” (Mateus 4.2). A Bíblia não menciona que Ele teve sede. Seria fisicamente impossível jejuar quarenta dias e quarenta noites sem ingerir líquidos. A maioria dos biblistas, acredita quer Jesus bebeu água no deserto, mas não ingeriu alimento sólido.  
 
Certas pessoas podem ficar em total abstenção e mesmo assim não perder sua disposição mental e física. Outros já não conseguem ter a concentração e disposição necessárias, devido o despreparo do seu corpo ou a fraqueza que o jejum total pode provocar nelas. Neste caso, ela pode tanto diminuir o tempo do jejum, como pode se alimentar com algo bem leve como, frutas, sucos ou algum tipo de alimento que não sobrecarregue o organismo e ao mesmo tempo alimente, ainda que levemente.
 
Pode não ser requerida a completa abstinência de alimento, mas devem comer parcamente, do alimento mais simples”. (CSRA 188-9)
 
Outro ponto a considerar é o costume da pessoa em relação ao jejum. Se a pessoa nunca jejuou, ela pode começar com um jejum de tempo reduzido, ou de abstenção parcial, e paulatinamente ir estendendo a duração e a abstenção de alimentos, de acordo com a sua realidade, até chegar à compreensão do seu limite.
 
Devemos sempre nos lembrar que a forma e a duração do jejum, só podem ser estabelecidos pela própria pessoa, sem jamais ser legislado e imposto por outros. Também não é preciso que seja anunciado publicamente por palavras, nem por um rosto abatido e triste, pois esta é uma experiência particular entre Deus e o adorador. Sendo assim, o jejum deve trazer alegria, confiança e entusiasmo na vida daquele que participa desta experiência maravilhosa com seu Criador (Mateus 6:16-18).
 
Outra grande complicação é com relação se o jejum inclui também a abstinência das relações sexuais entre marido e mulher. Isso é muito complicado, mormente em se tratando de um ou outro não ser cristão. E tem gente por aí afora ensinando quando do jejum, devem ser suprimidas as relações sexuais. Correto? Sim e não. Quando o casal é crente, é cristão, tudo bem,  porque há o “mútuo consentimento”. Mas quando um não é cristão, é terrivelmente complicado. Cuidado com os ‘ensinadores’ de coisas absurdas. Vejamos o que Paulo ensina: “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (I Coríntios 7.5). Assim como algumas pessoas se abstêm do prazer da alimentação, assim também, num jejum parcial, o casal pode se abster das alegrias do casamento ou relações sexuais, sendo crentes, “por algum tempo”. Cuidado com o longo tempo. Como em todas as coisas, o espiritual deve governar o físico, pois nosso corpo é templo de Deus. O marido e a esposa crentes ou havendo “mútuo consentimento”, podem até abster-se das relações sexuais a fim de dedicar toda a sua atenção à oração e jejum, mas não devem fazer disso uma desculpa para longos períodos de abstinência “para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. Nunca ouvi falar que um crente e um incrédulo oram juntos... Aqui todo cuidado é pouco e o Senhor Deus nos deu perfeita sabedoria e bom senso. Há muita gente ensinando as irmãs que tem maridos incrédulos ou vice versa incrédulos a utilizar da abstinência das relações sexuais... No meu ponto de vista, isso é tremendamente incorreto, porque Paulo ensina: “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher”). I Cor. 7.4) Paulo ensina e incentiva os cônjuges a estar em sintonia um com o outro tanto nas questões espirituais quanto físicas. Não nos esqueçamos jamais do “algum tempo”.
 
Finalmente, se a pessoa não está disposta a entregar-se à oração por longos períodos durante o jejum, não deve jejuar. A mera privação de alimentos não tem nenhum valor, se não for acompanhada por um exercício espiritual nas mesmas proporções. Por outro lado, a abstinência de alimentos às vezes é associada com a ideia de se fazer ‘boas obras’, para agradar a Deus. Isso é ranço de catolicismo... Quando uma pessoa se priva de alimentos, está fazendo um ato que demonstra a sinceridade de sua fé. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida; justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17).  
 
Se uma pessoa jejuar confiando em que isso lhe trará a salvação, esse jejum é obra da carne. A Bíblia ensina que não é “por obras de justiça praticadas por nós” (Tito 4.5), mas “ao que não trabalha, porém crê” (Romanos 4.5). Não podemos ser salvos por meio de obras. A credulidade do jejum não está na abstenção pura e simples, mas na sinceridade da pessoa que manifesta sua fé. O fato de algumas pessoas o praticarem apenas por legalismo, não invalida o jejum. Quando alguém crê que Deus será louvado pela consagração de seu corpo, pelo tempo passado em oração e pela abstinência de alimentos, seu jejum se torna um ato de fé.
 
Alguns querem que os outros jejuem, exatamente como eles o fazem. Na verdade, a Bíblia não nos diz quanto tempo devemos jejuar, nem quantas vezes e nem nos obriga a jejuar. O que é bênção para um, pode prejudicar a espiritualidade de outro, se se tornar uma imposição. Quem quiser jejuar, deve fazê-lo com a motivação correta, de modo bíblico, mas não deve forçar ninguém a fazer o mesmo. É o que eu penso. É o que faço. E sinto-me bem diante do Senhor Deus em assim e assim fazê-lo.
 
Gostaria de desafiá-lo a “alimentar-se” de Jesus Cristo durante o dia do jejum, quando assim e assim desejar fazê-lo. No dia em que Jesus se sentou  à beira do poço de Jacó, em Siquém, os discípulos tinham saído em busca de alimento. Quando os discípulos chegaram, disseram-lhe que comesse, ao que Ele respondeu: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis” (João 4.23). Ninguém lhe dera comida. O alimento que satisfizera Jesus fora fazer a vontade de Deus (João 34). Por isso é que creio que jejuar não implica apenas em abstermo-nos de alimento, mas também em nos consagrarmos à oração, buscando assim a face do Senhor!
 
Minha oração é que o Senhor Deus o ajude a reconhecer, de uma vez por todas, os benefícios que o jejum e a oração pode lhes trazer.
Experimente.
   

 

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