“Restitui!
Eu quero de volta o que é meu!” Esta frase extraída de uma canção tida como
“evangélica” me faz lembrar a petulante atitude do Filho Pródigo quando
disse: “Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe”. E quão diferente não
foi à atitude deste mesmo filho, que, anos mais tarde, arrependido,
apresenta-se diante do pai com o coração quebrantado, humilde, e nada
reivindica, pois, agora, está consciente de não possuir direito algum diante do
pai! Observem que ele nem mesmo se sente digno de ser tratado como filho! Ele
confessa o seu pecado e passa a contar apenas com a misericórdia do pai!
Nem
o Filho Pródigo e nem Jó em seus momentos de angústia cantaram ou clamaram algo
parecido com: “restitui, eu quero de volta o que é meu” Quando Jó perdeu
tudo, ele exclamou: “O Senhor deu, o Senhor levou, bendito seja o nome do
Senhor” ( Jó 1.21). Jó, mesmo sendo considerado uma pessoa justa,
sabia que tudo na vida era uma dádiva e que nada era dele por direito. Não
considerava nada como sendo realmente seu, pois sabia que tudo pertencia ao
Senhor. Pensando bem, se o salário do pecado é a morte, então, o que os
pecadores teriam de fato por “direito” seria a morte. Por isto, o profeta
Jeremias diz que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos
consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lamentações 3.22). E
diz mais ainda em 3.39: “Por que, pois, se queixa, o homem vivente?
Queixe-se cada um dos seus próprios pecados”.
Clamar
a Deus: “Restitui! Eu quero de volta o que é meu!” soa tão arrogante
quanto a oração do fariseu que se sentia cheio de direitos diante de Deus.
Jesus diz que tal prece foi ignorada por Deus, enquanto a humilde oração de
arrependimento do publicano pecador achou graça aos olhos de Deus (Lucas
18.14). Pois sabemos que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes” (Tiago 4.6). É neste sentido que as crianças nos servem como
modelo, não por sua inocência, mas por sua incompetência. As crianças
estão de mãos vazias, não têm passado e não possuem uma folha de serviços
prestados para apresentar como base de suas pretensões e reivindicações de
direitos. Elas são “ os pobres de espírito, porque deles (as) é o reino dos
céus”! (Mateus 5.3).
Como
crianças se tornaram o profeta Isaías que, consciente de não poder subsistir
diante de Deus na base de seus próprios méritos, clamou por misericórdia,
dizendo: “Aí de Mim…” (Isaías 6.5 ); João Batista que disse não ser
digno de desatar as sandálias de Cristo (João 1.27); o centurião, que disse não
ser digno de que Cristo entrasse em sua casa (Mateus 8.8); o publicano que
quando orava, “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no
peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lucas 18:13); o Filho
Pródigo, que disse não ser digno de ser chamado de filho (Lucas 15.19); o cego
de Jericó, que mendigava e clamava por misericórdia (Lucas 18.35s); a mulher
sírio fenícia, que não se sentia digna de comer à mesa dos filhos, mas que se satisfaria
com as migalhas que caíssem da mesa do Senhor (Mateus 7.26s); Pedro, que
prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, retira-te de mim, porque sou
pecador” (Lucas 5:8); Paulo que disse ser o maior dos pecadores e indigno
de ser chamado Apóstolo (I Coríntios 15.9); e tantos quantos reconhecerem sua
indignidade, sua incompetência, sua inadequação, e, pobres de espírito e
desprovidos de qualquer pretensão e noção de direito, se apresentaram de mãos
vazias diante de Deus esperando por sua misericórdia e graça! Isso sim, é
bíblico!
Jesus
disse aos líderes religiosos dos judeus que estavam confiantes em sua noção de
direito decorrente do fato de serem descendentes de Abraão: “Produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos
por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar
filhos a Abraão” (Lucas 3:8). Não devemos, portanto, nos apresentar diante
de Deus reivindicando o que quer que seja na base de um pretenso direito. Tal
ideia é um atentado ao Evangelho da Graça!
Graça
é dádiva imerecida, não nos esqueçamos disso, jamais! Portanto, não temos
direito a nada, pois tudo o que recebemos das mãos de Deus é resultado de Sua
amorosa graça! Aprendamos, portanto, a orar com o profeta Daniel: “não
lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas
em tuas muitas misericórdias” (Daniel 9.18). Vemos nessa canção herética
também um outro vento novo de falsa doutrina, que está sendo denominada -
a ‘teologia da restituição’. Baseado em Joel 2.25, está sendo
ensinado no meio do povo de Deus que tudo o que nos foi roubado pelo diabo,
estará sendo restituído por Deus: “Restituir-vos-ei os anos que foram
consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu
grande exército que enviei contra vós outros.” Mas o próprio versículo
deixa claro que este exército de gafanhotos não foi enviado pelo Diabo, mas,
sim, por Deus, com intuito de disciplinar, corrigir e ensinar
seu povo! Verifiquemos isso!...
Outro
problema também é atribuirmos ao diabo os nossos infortúnios e nos esquivarmos
de nossa responsabilidade pessoal. É interessante notar que, diante deste
quadro, o profeta Joel não conclama o povo a um clamor de restituição, mas,
sim, a um clamor de arrependimento (2.12-15). Corações quebrantados,
contritos e humildes nunca são rejeitados por Deus: “Sacrifícios agradáveis
a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o
desprezarás, ó Deus” (Salmo 51.17; Ver também: Isaías 57.15 e II Crônicas
7.14).
Quando
Deus promete restituir, isto se deve a Sua misericórdia e graça e não a
qualquer espécie de obrigação, pois Deus nada deve ao ser humano, mas somos nós
quem Lhe devemos tudo! Pois “quem primeiro deu a ele para que lhe venha a
ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A
ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.35,36).
Parem
de cantar essa canção herética em suas igrejas! Parem, parem... Saiba, examine
que tipo de canção você está cantando...
Esta
canção está repreendida em Nome de Jesus!
Pr.
Barbosa Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário