Pr. José Barbosa de Sena Neto
pastorbarbosaneto@gmail.com
O texto clássico sobre a Ceia do Senhor, porém, é o de I Coríntios 11.17-34, no qual o apóstolo Paulo, diferentemente dos demais escritores inspirados, não apenas descreve a instituição do memorial pelo Senhor, mas encaixa o evento na situação real da Igreja de Cristo e adorna-o de comentários doutrinários.
As fantasias e superstições de líderes evangélicos oriundos da Umbanda ou do Kardecismo e a nefasta influência de livros de escritores anglicanos e luteranos, que interpretam de modo místico e sacramental os textos referentes à Ceia do Senhor, principalmente o texto clássico paulino, têm inseminado na comunidade evangélica idéias católicas acerca dos elementos da Ceia do Senhor.
Os evangélicos reconhecidos como Batistas, temos rejeitado, frontalmente, através dos tempos, não somente a doutrina da transubstanciação católico-romana (presença real de Cristo na Ceia pela transformação dos elementos pão e vinho no Seu corpo e sangue) como também a da consubstanciação luterana (presença real de Cristo na Ceia, pela união de Cristo com os elementos pão e vinho), por entendermos que tanto uma como a outra, embora amparadas por bem e elaborados argumentos filosóficos, carecem de fundamento bíblico e, o que é pior, induz à idolatria.
A assim-chamada Igreja Católica afirma: “No santíssimo sacramento da Eucaristia estão ‘contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo de Cristo juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo” (Catecismo da Igreja Católica, Ed. Vozes-Loyola, p. 379#1374; Conc. de Trento, DS#1651). Afirma, também: “pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda substância do vinho na substância do Seu sangue; esta mudança, a Igreja católica denominou-a, com acerto e exatidão de transubstanciação”. (Conc. de Trento, DS#1641).
A encíclica Mysterium Fidei, de 30 de setembro de 1965, assinada pelo finado Paulo VI, traz novas interpretações. As categorias e a linguagem tridentina marcadas pela teologia escolástica, já se tornaram irrelevantes para o homem moderno. Nos anos 60 foi de grande notoriedade a preocupação por corresponder à mentalidade moderna, dando chance à chamada ‘crise holandesa’, preocupação esta que aflorou de modo muito forte nos Países Baixos. Os teólogos católicos continuaram defendendo que a eucaristia é um evento de salvação em favor dos homens, mas o importante, naquele momento, era “o novo significado e a nova finalidade” do pão e do vinho depois da consagração. “Transfinalização e transignificação” seriam para os tempos modernos bem mais adequados para traduzir a assim-chamada “transubstanciação”.
Esta encíclica afirma que “com a transubstanciação, as espécies de pão e de vinho revestem novo significado e têm novo fim; mas esse novo fim e esse novo significado supõem uma nova realidade ontológica. Porque há transubstanciação, também há transignificação e transfinalização”. (#766). O que podemos observar é que os tratados teológicos romanistas, numa tentativa desesperada para explicar o não explicável, cada vez mais penetram num emaranhado de opiniões ocas e sem sentido resultante da ilógica proveniente da interpretação literal das palavras de Jesus ao instituir a Ceia Memorial.
O teólogo Jesús Esteja, jesuíta, bastante respeitado no meio do Catolicismo Romano, assim afirma: “Os termos ‘transubstanciação’ e ‘transfinalização’ (ou ‘transignificação’) devem ser usados com reservas. O primeiro, porque “substância” nas ciências positivas já não tem o significado que teve na filosofia grega que serviu de base à teologia escolástica, comum aos padres conciliares de Trento. A “transfinalização” (ou ‘transignificação’ corre o perigo de ser imprecisa para expressar o realismo da presença”.
A assim-chamada Igreja Católica nos assegura que após a oração consecratória sobre o pão e o vinho, são transformados em alguma coisa diferente: em corpo e em sangue. Entretanto, a linguagem empregada nos textos de Mateus 26.26-29, Marcos 14.22-24, Lucas 22.19-20 e I Coríntios 11.23-26 não conduzem a esta conclusão! O que podemos perceber é que era ação de graças e louvor rendidos a Deus, exatamente como o Senhor Jesus fez, quando alimentou a multidão, dando graças pelos pães e pelos peixes (João 6.11).
O que nos chama à atenção são as palavras de Jesus depois da ação de graças: “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”. Como poderia Jesus dizer que em Suas mãos estavam o Seu próprio corpo e o Seu próprio sangue, quando Ele ainda estava vivo no meio dos discípulos, habitando o mesmo corpo com o qual nascera da bendita Virgem Maria e com o qual andara e ainda estava andando na companhia dos discípulos? Portanto, a assim-chamada ‘transubstanciação’(ultimamente travestida de ‘transfinalização’ ou de ‘transignificação’), fere frontalmente a inteligência das pessoas sensatas! Voltaremos ao assunto.
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