sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

COMO INTERPRETAR AS PROFECIAS.

* Pr. José Barbosa de Sena Neto
pastorbarbosaneto@yahoo.com.br


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A Bíblia não é um livro simples como parece aos menos avisados. Ela encerra os segredos de Deus que tantas vezes não encontram expressão em linguagem simples e só podem ser vislumbrados mediante os recursos de símbolos, tipos, analogias, etc., sem menosprezar a Gramática e a História.

Dizer o que vai acontecer no futuro é tão sobrenatural como fazer um paralítico andar ou um cego ver. Profetizar não é adivinhar nem calcular o que vai acontecer no futuro, nem ter a premonição (intuição) de que algo está para acontecer, mas é anunciar com clareza e autoridade o que Deus vai realizar antes que seja possível fazer qualquer provisão por meios puramente naturais. É dizer que algo vai acontecer porque Deus assim falou.

No sentido mais comum, a palavra profecia significa “predição do futuro”. Porém, na Bíblia Sagrada, ela não tem apenas este sentido. Profetizar, no sentido amplo é comunicar os mistérios de Deus aos homens. O apóstolo Pedro diz “que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação...” (II Pedro 1.20). Elucidação é o mesmo que interpretação, pois interpretar é, afinal, elucidar, lançar luz sobre o que queremos compreender. A interpretação de uma profecia jamais deve ser feita de modo isolado dos demais textos da Bíblia Sagrada.

A Hermenêutica, sendo a arte de interpretar, recomenda que, quando o sentido aparente de um texto não se harmoniza com o contexto geral da Bíblia, não deve ser ele tomado como verdadeiro. Esta expressão “particular interpretação” quer dizer, também, que não é privilégio de alguns a capacidade de interpretação. Todos aqueles que lêem as profecias com humildade, sem preconceitos, submissos à iluminação do Espírito Santo, tendo o devido conhecimento da verdade bíblica, no seu todo, podem entendê-las satisfatoriamente. Não é privilégio de pastores, mas de todos os que se preparam intelectual e espiritualmente para receber tal bênção. É uma bênção pela qual temos de pagar, além do preço da fé, um tributo de pesquisa, estudo e inteligência.

As profecias tiveram sempre um alvo: Jesus Cristo. Ele próprio disse aos Seus discípulos: que “importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. (Lucas 24.44). Mateus registra: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mateus 11.13). Como todos os movimentos políticos e sociais que envolveram o povo de Israel tiveram por fim preparar o mundo para a vinda de Jesus ao mundo, é certo que as profecias, mesmo aquelas que não se referiram diretamente a Ele, tiveram como alvo o Messias prometido. Para entender as profecias, temos que descobrir qual o seu ponto de contato com a esperança que Deus queria manter acesa no coração do seu povo.

As Escrituras Sagradas enfeixam ao mesmo tempo acontecimentos diversos. Para que nada ficasse isolado na Bíblia Sagrada, as profecias estão relacionadas com vários acontecimentos, ao mesmo tempo. Por exemplo: a profecias de Joel, sobre o derramamento do Espírito Santo (Joel 2.28-32). Esta profecia se cumpriu no dia de Pentecostes, como explicou o apóstolo Pedro (Atos 2.14-21). Porém, observem que se cumpriu apenas em parte, naquele dia. No que se refere ao sangue, fogo e vapor de fumo, escurecimento do Sol e transformação da lua em sangue, fatos estes que ainda não se deram, a profecia está relacionada com outras relativas a acontecimentos futuros. Há um outro derramamento do Espírito Santo prometido a Israel quando estiver, de novo, habitando seguro na sua Terra (Ezequiel 39.25-29), de cujo texto transcrevemos o último versículo: ”Já não esconderei deles o rosto, pois derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel, diz o Senhor Deus”.

Quando lemos em Mateus 24.3-44, à primeira vista, parece que todo o texto se refere a um só acontecimento. Porém, mais detidamente, podemos ver nele, no mínimo, quatro etapas diferentes, sem ordem cronológica. Do versículo 3 ao 14, o texto se refere a um período que abrange a tarefa da Igreja no mundo, antes do seu arrebatamento; do 15 ao 28 refere-se à destruição de Jerusalém, que se deu no ano 70 da nossa era e é grande em tribulação, sem precedentes, durante a qual os eleitos serão preservados (vv. 22,24; Apoc. 7.14). Do 29 ao 31 trata, ao mesmo tempo, da volta de Jesus e do arrebatamento dos Seus remidos. De 32 a 44 volta a falar de coisas que vão acontecer antes do arrebatamento, havendo, aqui e ali, referências à consumação dos séculos. Igualmente, no Apocalipse, as profecias visam a acontecimentos próximos e remotos, de uma só vez.

As profecias tiveram sempre um fim espiritual. Deus sempre desejou ver o seu povo olhando para o futuro com confiança e aguardando as suas promessas cheio de esperanças. As profecias mantêm os crentes em constante expectativa de bênçãos espirituais. Não há motivos para crer que Deus esteja interessado em revelar o futuro, senão quando objetiva dar ânimo aos Seus filhos, diante de situações desalentadoras.

Quando Israel foi levado para o cativeiro, Deus lhe falou por Jeremias “que mudarei a sorte do meu povo de Israel e de Judá...fá-lo-eis voltar para a terra que dei a seus pais, e a possuirão”. (30.3). Quanto a nós, os cristãos, o Senhor Jesus deixou-nos profecias de Sua Segunda Vinda, para que a Igreja estivesse sempre vigilante, olhando para cima, pensando e participando ativamente dos atos de Deus. Maranata!
* pastor abtista, foi sacerdote católico romano durante 22 anos consecutivos, autor do livro "Confissões Surpreendentes de um ex-Padre", conferencista, missionário na cidade do Crato-CE.

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