Pr. José Barbosa de Sena Neto
Não sou tão 'antigo' assim, mas fiquei deveras assustado com o número de dias da minha existência que completei no último dia do ano 'velho' passado 22.265 dias! Fiquei impressionado por ter chegado a marca destes dias. Já vivi o bastante para não ficar impressionado, mas as coisas não são bem assim. Gosto de relembrar as coisas boas de um passado recente e fico impressionado de como nos últimos tempos está havendo uma inversão de valores, mas embalo uma esperança de que, por causa de Cristo e do Evangelho, o mundo pode vir a ser melhor. Sonhar não é pecado!
Sim, há muitas coisas que gosto de relembrar e outras que me impressionam e muito. Por exemplo: gosto de relembrar do tempo em que nós, eu e você, éramos chamados de "crentes". Quando alguém nos perguntava se éramos "crentes", havia uma resposta entusiasmada: "Sim, pela graça e misericórdia do Senhor Deus!". Hoje está tudo diferente! Os "crentes" de hoje estão evitando serem chamados de "crentes". A ordem do dia é ser "cristão". Tudo é igual! Não há diferença! O termo é tão vago, mas tão vago, tão indefinido quanto a "vida cristã" vivenciada pelos assim chamados "cristãos" de hoje! Misericórdia, meu Senhor!...
Por outro lado, fico impressionado ao ver o povo chamado pelo nome de Deus, se permitir ser "massa de manobra" dos espertalhões do púlpito. Me impressiona e muito, ver o povo de Deus ser enganado debaixo da plena luz do Sol, vivendo a mercê de "profecias" e "profetadas" extravagantes que não se cumprem, levados por visões que não refletem a verdade bíblica e manifestações exóticas em "cultos" que não têm base em nenhum ensinamento da inerrante Palavra de Deus. Apenas pessoas ávidas em descobrir o futuro... o seu futuro...e coisas e tais...
Mas também gosto de relembrar do tempo que já vai longe, quando não havia nenhuma conveniência de ser "crentes". Muito pelo contrário, naquele tempo era, socialmente falando, muito constrangedor, porque implicava em uma mudança de vida radical que incomodava o mundo ao seu redor. Eu me lembro muito bem do que significava ser convertido, ter passado pela experiência real do novo nascimento. Os "crentes" testemunhavam daquilo que o Senhor Deus havia feito em suas vidas e em suas palavras havia autoridade! E os "incrédulos" se convertiam pelo testemunho ouvido e visto, por saberem que aquelas pessoas, homens ou mulheres, "haviam estado com Jesus" (At. 4.13). Que maravilha! Eram os bons tempos em que ser "crente" não significava ficar rico ou "se dar bem" na vida. Os "crentes" daqueles tempos idos tinham os olhos voltados para o céu, oravam mais, clamavam mais e reclamavam menos, gostavam mais de vigílias, buscavam "as coisas lá do alto" (Col.3.1), aguardavam com ansiedade a volta gloriosa de Jesus, se alegravam em falar dela, compartilhando esta esperança uns para os outros, a ponto de não terem muito tempo para falarem da vida alheia como hoje acontece com maior e melhor facilidade ou discutirem os pormenores dos últimos capítulos das novelas globais durante os cultos, e se extasiavam com a esperança do arrebatamento da Igreja ( alguns assim acreditam) e dele tomarem parte para a participação gloriosa das "bodas do Cordeiro"(Ap. 19.7-9). Bons tempos aqueles! Lembram-se?!
Me impressiono ao ver as pessoas sendo manipuladas, condicionadas mentalmente, não fazendo a menor diferença para elas, se o seu líder religioso disse - homem ou mulher - tem sustentação bíblica revelada na Palavra de Deus. Tudo é crer na fé! O que vale agora é o que se sente, o pragmatismo louco e desenfreado é reinante e não interessa o que está escrito na Palavra. Por isso, vivemos hoje um tempo de megatemplos cheios de pessoas vazias, sem vida cristã autêntica, sem vivência cristalina do Evangelho, desnorteadas, sem nenhuma esperança e certeza de salvação eterna, apenas ali estão acotoveladas em busca das “bênçãos do Senhor", mas sem nenhum compromisso mais sério e permanente com Ele, pois o que vale é a oferta da “bênção do dia"... pobres vidas, caminhando recreativamente para o inferno!... (Rm 2.8; Lc 11.28; João 15.4-5).
Hoje é fácil 'abrir' um novo 'trabalho'... Não há precisa nem de dinheiro... As facilidades encontradas no cartório ali da primeira esquina são enormes. Os dividendos são os melhores possíveis da praça, basta que tenhamos uma verve excelente a nosso favor. Os nomes dos 'trabalhos, digamos, um pouco hilariante, apenas... Eu vi com estes meus olhos, lá pelos lados dos pampas gaúchos, uma igreja tipicamente mui sui generis: "Igreja Evangélica Pentecostal O Cuspe de Jesus - Sede Mundial". E, pasmem, havia fiéis fervorosíssimos!...E ficaram orgulhosos quando dissemos que queríamos uma foto de todos eles capitaneados pelo seu pastor, para que pudéssemos guardar aquela foto como lembrança, inesquecível!... Deveria o seu espaço medir mais ou menos uns 8 x 10 m2, exagerando... Acreditem, se quiser... Duvidam? Eu ainda tenho a prova comigo.
Também não posso deixar de recordar que nos bons tempos éramos chamados de "bíblias", pois tal sacrossanto apelido nos identificava com os ensinos da Palavra de Deus. Hoje os "cristãos" - em nada parecidos com o Cristo de O Caminho - vão às suas "reuniões" sem levarem as suas bíblias debaixo do braço, como antigamente os "crentes" assim o faziam.... Mas, para que levá-las se elas já não são mais lidas e acompanhada suas leituras pelos participantes, quando ela é apenas citada fora do contexto para dar certo com a "bênção do dia" pelos seus líderes? Aliás, os "cristãos" de hoje nem mesmo sabem procurar o livro, o capítulo e o versículo que poderá ser lido em suas bíblias, quando as têm... Culto doméstico, que é isso? Ele existe para quê? Quando e onde ele é realizado? - perguntam. Falar em 'pecado', é hoje muito fora de moda... Não dá público! Afugenta as pessoas... Lembro-me que naqueles bons tempos os "crentes" do passado eram rigorosos com a sua conduta pessoal, ética, moral e espiritual. Havia diferença entre ser "crente" e ser "incrédulo" a olho nu... Hoje, é muito difícil, complicado, muito complexo saber quem é quem... Naquele tempo, os "crentes" compravam e pagavam o que adquiriam com o suor do seu rosto e não davam 'calotes' em ninguém com cheques sem fundos e nem viviam metidos em escândalos, até o fio de seus cabelos. Encontrar naqueles bons tempos, algum pastor divorciado, no pleno exercício do seu ministério, era praticamente impossível... Hoje... bem... os tempos mudaram!...
Mas também não posso deixar de me impressionar ao ver homens e mulheres se auto-intitulando de "apóstolos" e tantas baboseiras, que nada mais são do que fruto da vaidade humana e do desejo de se tornarem, a cada dia, mais deus do que homem e mulher. Não se vendem mais "indulgências plenárias', mas vendem por aí afora "um bom lugar na terra", com direito a carro novo, do ano e importado, de preferência, vida próspera, saúde em troca de 'sacrifícios' e uma boa soma de dinheiro como lance de fé, dando tudo o que têm, não para missões, pois isto seria um desperdício tremendo, mas para engordar a conta bancária dos líderes mais espertos, especificidade dos velhacos, adeptos da 'lei de Gérson' (lembram-se dela?), como se isso, por si só, fossem sintomas da bênção real do Deus Todo-Poderoso. Que saudade dos velhos tempos!...
Ah, mas eu também me impressiono pela pobreza dos púlpitos! Como poderemos ter uma geração cristã madura e santa, com tanta pregação rasa e sem base bíblica ou dentro de um contexto distorcido para acomodar os propósitos daquele dia? Como se ter uma igreja sólida e espiritualmente preparada para responder com mansidão e temor a qualquer que lhes pedir "a razão da esperança" I Pd 3.15), se no altar, onde fica o púlpito, mais parece um circo? E que dizer dos 'pastores', muitos deles aquartelados em suas majestosas 'catedrais de fundo de quintal', autênticos vaníloquos em sua verborragia, vomitando ódio e perseguindo e maltratando e vilipendiando a seus pares, muitas das vezes da mesma Fé e Ordem?! O Senhor Jesus nos deixou uma ordem que "amássemos uns aos outros", mas resolvemos a nosso bel-prazer, por nossa livre recreação nada cristã, retirar o acento agudo do verbo e passamos a proclamar em alto e bom som no topo da nossa 'majestade' que "amassemos uns aos outros", numa demonstração de autoritarismo farisaico e de cristalina falta do verdadeiro amor cristão! Tudo isso me deixa muito impressionado, mas que venha mais um Ano Novo com novas chances e novas perspectivas, para que o Nome do Senhor seja, de fato, verdadeiramente exaltado! Amém e amém!
Sinceramente, eu estou deveras impressionado com tudo isso que está acontecendo em nossos dias, parecendo ser manifestações de apostasia... E, aqui pra nós, me fala a verdade, meu irmão e minha irmã queridos: vocês não estão também impressionados tanto quanto eu?! O que vocês me dizem disso tudo?!... Com vocês a palavra.
* pastor batista, foi sacerdote católico romano durante 22 anos consecutivos, e é autor do livro “Confissões Surpreendentes de um ex-Padre”, conferencista.
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