sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

PERSEGU, DE MANEIRA IMPLACÁVEL, A UM SERVO DO SENHOR...

*Pr. José Barbosa de Sena Neto
pastorbarbosaneto@yahoo.com.br


Continuo sempre recebendo convites para realizar eventos evangelísticos em diversas localidades brasileiras. Um destes convites que muito me honrou, foi o recebido do jovem e dinâmico Pr. Mauro Régis da Silva, pastor titular da Igreja Batista Independente de Batatais, interior de São Paulo, para ser o preletor oficial das séries de conferências evangelísticas por ocasião das festivas comemorações do 39.º aniversário de organização eclesiástica daquela amada Igreja. Fomos muito bem recepcionado pela sua diretoria, de maneira especial pelo Dr. Antônio José Cintra, um dos mais conceituados advogados daquela região da Alta Mogiana.

Um dos alvos após aquele honroso compromisso, era o de ir até a vizinha cidade de Orlândia, último paroquiato do saudoso, ex-Padre Dr. Aníbal Pereira Reis, de tão saudosa memória, exatamente para conhecer de perto a assim-chamada “Paróquia São José” que ele a administrou entre junho de 1963 a maio de 1965, antes de entregar a sua vida totalmente ao Senhor Jesus, como seu único e suficiente Salvador.

Havia uma como ‘dívida’ particular que tínhamos para com o Pr. Aníbal Pereira Reis, pois, sem ter tido o alto privilégio de conhecê-lo pessoalmente, quando de sua visita à cidade de Bauru, também interior de São Paulo, para um evento evangelístico. Naquele tempo, estávamos servindo à diocese daquela cidade, como vigário de uma de suas paróquias, e nos lançamos de maneira ferrenha e deselegante, como um perfeito pascácio, a fim de beneficiar-me de interesses tão escusos, contra àquele servo do Senhor. Deu-me na veneta a arrogância inconseqüente de perseguí-lo e injuriá-lo a qualquer preço com todas as armas possíveis como é do vezo romanista.

Por isso aquela visita à antiga paróquia daquele “homo Dei”, tinha um sentido todo especial para mim, como um ato de desagravo pela infeliz atitude tresloucada que há mais de 26 anos tive para com o Dr. Aníbal Pereira Reius, com objetivo de escusos interesses pessoais. Para ir até Orlândia, solicitei a ajuda do Pr. Carlos Alberto Moraes, o qual, solícito, se fez pacientemente meu cicerone, de cuja companhia tão agradável me senti imerecidamente honrado, para que eu pudesse chegar à sede daquela paróquia.

Meu objetivo era o de conferir in loco se a fotografia do ex-Padre Aníbal Pereira Reis, então pa´roco daquele paróquia, ainda fazia parte da galeria de honra concedida aos ex-párocos que trabalharam naquela paróquia, como assim preceitua normas inseridas no Código de Direito Canônico, e quando tais fotos são colocada em destaque no frontispício das sacristias, tais fatos são lavradas por escrito a mão livre no livro tombo (onde são registradas todas as ocorrências eclesiásticas e canônicas de uma paróquia). Viajei com o Pr. Carlos Alberto Moraes a Orlândia, e na primeira tentativa, chegamos um pouco atrasados, quase na hora do encerramento do expediente da secretaria daquela paróquia, mas mesmo assim, fomos atendidos gentilmente pela auxiliar da secretária, D.ª Judite, a qual nos informou que todo e qualquer assunto especial deveria ser tratado somente com D.ª Vitória, a titular daquela secretaria.

No dia seguinte, retornamos e fomos novamente recepcionados por D. Judite, a qual nos informou que D. Vitória não havia vindo dar expediente, mas que ela teria um livrinho contendo toda a história da “Paróquia São José”, a qual hoje pertence a Diocese de Franca, contendo todos os dados que queríamos. Aproveitando o ensejo, perguntei àquela senhora se eu não poderia conhecer o templo e a sua sacristia. Dando-me o consentimento positivo, ela mesmo foi comigo a fim de apresentar-me todas as dependências daquela sede paroquial.

Quando adentramos à nave central do templo, algo estranho tomou conta de mim, pois a luz tênue de final de tarde deixava-me transparecer uma sensação lúgubre e mais estranha ainda.

Quando chegamos às dependências da imensa sacristia, deparei-me com um verdadeiro e rico museu de peças sacras. Ali estavam as alfaiais, algumas já amareladas pelo desgaste do tempo, os paramentos (casulas) que já não são mais de uso corriqueiro pelos curas de nossos dias, muitos de fino acabamento, uma infinidade de estolas pastorais de todas as cores litúrgicas, insígnias de uso obrigatório pelo sacerdote e ali estavam, também, muitos castiçais de prata, com talhos ornamentais de fina espécie, turíbulos, cálice e patenas diversos, jogos de galhetas, cibórios de todos os tamanhos, sacrários com finíssima decoração de metal de boa qualidade, cravejados de pedras semi-preciosas, enfim, um sem número de utensílios guardados em gôndolas especiais de vidro, fechadas a chave.

Mas, o fato que mais me surpreendeu, foi o de não ter encontrado a galeria de fotos oficiais dos ex-párocos que já haviam passado por aquela paróquia. Incontinenti, perguntei a D.ª Judite o porquê de ali não estar as fotografias, alvo da minha visita, já que é uma norma canônica. Ela me disse, quase sem muita argumentação convincente, que a sede da paróquia havia passado por uma reforma, mormente a sacristia, e em razão disso, as fotos haviam sido retiradas, pois “muitas delas estavam avariadas pelo ataque dos cupins”. Perguntei-lhe onde estavam as fotos danificadas – já que elas não podem sair do recinto - ao que ela me afirmou que as “mesmas haviam sido recolhidas pela Cúria Diocesana, para serem restauradas”. Lá não estava, portanto, a foto do Pe. Aníbal Pereira Reis! Será para ‘apagar’ definitivamente a história da sua passagem por aquela paróquia? Não sabemos. Mas deixou-nos transparecer uma estranha coincidência... Ao terminar aquela visita, D.ª Judite me assegurou que D.ª Vitória, a secretária, havia se esquecido de deixar o livrinho da história daquela paróquia, que me fora prometido, mas que no dia seguinte, caso eu ali comparecesse, com certeza ele ser-me-ia entregue, para que eu pudesse pesquisá-lo à vontade.

Durante todo este demorado desenrolar, o Pr. Carlos Alberto Moraes me esperava pacientemente, não achamos conveniente ele aparecer juntamente comigo, em razão de ele ser muito conhecido na cidade e, por este fato, despertar ‘suspeitas’! Mais uma tentativa em vão. Um tanto quanto frustrados, mas mesmo assim, para registrar a visita, meu cicerone resolveu bateu algumas fotos, fazendo-me realçar em destaque diante daquele histórico templo.

Dias após, ciceroniado desta vez pelo Pr. Almir Nunes, de Morro Agudo, cidade na qual eu estava pregando, realizando conferências, retornei àquela paróquia e das mãos da própria D.ª Vitória, a secretária paroquial, recebi o tão almejado livrinho de pouco mais de vinte páginas. Perguntei a D.ª Vitória, se eu poderia ter acesso ao Livro Tombo n.º 2, para verificar um certo documento histórico que fora lavrado nas folhas 59 a 61, de livre punho, pelo Padre Aníbal Pereira Reis, no dia 12 de maio de l965, data de sua renúncia oficial ao seu paroquiato. Ela ficou visivelmente desconcertada e titubeando me disse que, aquele meu pedido fugia da sua autonomia e que somente o pároco atual, em cujo poder o livro solicitado está, é quem poderia satisfazer este meu desejo. Perguntei-lhe se o livro não fora também recolhido pela cúria e ela apenas me respondeu: “Esta pergunta somente o nosso atual pároco lhe pode responder...”.

Na página de número quatro do referido livrinho lá está um pouco da história daquela paróquia, o qual nos afirma que antes ela tinha como padroeira “Santa Genoveva” (a qual não é muito conhecida e nem de ‘devoção popular’), a qual foi erigida em 31.03.1911 por Dom Alberto José Gonçalves, então bispo de Ribeirão Preto, mas que havia sido instalada oficialmente apenas em 30.04 daquele mesmo ano, tendo como seu primeiro pároco o Pe. Messias de Mello Tavares. Narra-se ali que, em 1949, o Pe. Sebastião Ortiz Gomes, seu décimo pároco, achou por bem colocar o “São José” no padroado daquela paróquia, por ser mais popular entre os fiéis daquela cidade, concretizando-se este seu desejo no dia 19 de janeiro de 1951através de decreto episcopal, assinado pelo então bispo Dom Manuel. Na lista dos padres que já trabalharam em Orlândia, no décimo segundo lugar estava o Padre Aníbal Pereira Reis, o qual foi empossado festivamente pelo seu futuro algoz e torturador, Dom Agnelo Rossi, então arcebispo de Ribeirão Preto, cuja jurisdiçào eclesiástica pertencia outrora aquela referida paróquia. Também estava registrado que o Padre Aníbal deixara aquele paroquiato no dia 12 de maio de 1965, cujo ato fora lavrado no Livro Tombo n.º 2, nas folhas 59 a 61, de livre punho, cujo este documento oficial de sua renúncia, fora endereçado ao Monsenhor Dr. João Lauriano, então Vigário Capitular da Arquidiocese de Ribeirão Preto, já que aquela região episcopal estava vacante, em razão do Dom Agnelo Rossi, a esta altura já cardeal, ter sido transferido para Roma.

Depois de inúmeras decepções sofridas e intensiva leitura das Sagradas Escrituras, Padre Aníbal Pereira Reis resolve corajosamente entregar a sua vida inteiramente ao Senhor Jesus, às 02h30m da madrugada do dia de 8 de novembro de 1961, ainda quando pároco em Guaratinguetá-SP, o qual saindo de Recife-PE, foi transferido para aquela localidade pelo seu amigo, Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, em março de 1960, sendo em ato contínuo incardinado pelo bispo Dom Antônio Ferreira de Macêdo, então arcebispo de Aparecida do Norte, e pelo qual também fora empossado na “Paróquia Nossa Senhora da Glória”, recém criada em Guaratinguetá, no Bairro do Pedrugulho. Quando em janeiro de 1963 de lá foi transferido, a seu pedido, para Orlândia – a 365 km de São Paulo – deixou para o uso de seus fiéis um grande templo construído, com capacidade de acolher mais de duas mil pessoas. A data de sua partida aconteceu no dia 17 de maio de 1963. Passou quatro anos ainda como sacerdote romano, após a sua decisão por Cristo, pois não é fácil um padre deixar de vez a sua vida sacerdotal, sem um planejamento mais amadurecido, a fim de sobreviver aqui fora! Eu quem o diga!

Após ser empossado na “Paróquia São José” de Orlândia, ele mesmo nos declara em sua autobiografia – “Este Padre Escapou das Garras do Papa!!” na pág. 183: “Toda Orlândia ouviu a verdade do Evangelho!”. Não demorou muito para que os seus paroquianos comentassem, à boca pequena, “que o padre pendia para o protestantismo”. Orlândia “seria um paraíso na terra se não fosse o grupelho dos sacos-rotos e papa-hóstias a transformá-la em ‘caldeirão do inferno’, como a classifica a esposa de um benemérito local” – deixa-nos registrado o nosso homenageado. Suas palavras denotam sintomas das perseguições, da falta de sindérese por parte dos sacripantas assíduos da roda dos escarnecedores, fazendo vir à tona as mais ínfimas calúnias não lhe faltaram!

No dia 7 de novembro de 1964, havendo planejado com delicado cuidado, sob orientação divina, resolve vir a Santos-SP, onde já houvera antecipadamente localizado o templo da Primeira Igreja Batista daquela cidade e, no dia 11, avista-se com o seu futuro Pastor, Dr. Eliseu Ximenes, o qual o coloca em contato com diversos pastores batistas, dentre eles, o Pr. Dr. Antônio Gonçalves Pires, também ex-padre católico romano, os quais lhe dão a destra da fraternidade e o apôio tão necessários naquele momento difícil e decisivo em sua vida. Era necessário toda aquela cautela e todo aquele amparo, para nada lhe sair precipitado. Retorna a Orlândia, e antes de sua saída, ainda recebe a visita protocolar de seu então bispo, o Dom Agnelo Rossi, o qual publicamente o cognomina de “zeloso e dedicado pároco” acrescentando outros inúmeros elogios que, durante a sua administração paroquial, aquela “era a paróquia modelo da Arquidiocese”, cujas estas palavras se encontram registradas no Livro Tombo n.º 2, fls 54 a 57.

O Padre Aníbal Pereira Reis no dia 30 de maio de 1965, na presença de toda a Primeira Igreja Batista de Santos-SP, e de uma grandiosa multidão que se acotovelava e superlotava aquele templo naquela oportunidade para ouví-lo, fez sua pública e formal confissão e decisão de fé em Cristo Jesus, e incontinenti, tira à vista de todos, a sua batina negra, símbolo da sua escravidão que o amortalhou por longos anos! Ato de coragem e bravura, para aquela época! Naquela oportunidade veio de Bauru-SP, especialmente para abraçá-lo, o seu antigo professor do Liceu Municipal de Orlândia, tido por ele como ‘herege’, o Pastor Professor Henrique Cyrillo Corrêa, o qual há anos lançara “a semente do Evangelho no coração de um adolescente que germinou e produziu o inefável fruto da conversão de um padre”! (Ecl. 11.1) Maravilha!

Quase um mês após, exatamente no dia 13 de junho do mesmo ano, foi batizado nas águas, pelo Pastor Eliseu Ximenes, no templo da Primeira Igreja Batista de Santos, diante de uma comitiva de irmãos queridos de Guaratinguetá que testemunharam in loco seu exercício sacerdotal naquela cidade do Vale do Parnaíba e de diversas outras cidades. O ex-Padre Aníbal Pereira Resis foi sempre um vocacionado por Deus e, para fazer jús a este chamado divino, foi ordenado ao Santo Ministério da Palavra, por um concílio de pastores batistas, o qual foi presidido pelo também ex-padre católico romano, Pastor Dr. Antônio Gonçalves Pires, no dia 16 de abril de 1966.

Quando escreveu e publicou “A Bíblia Traída” e “O Ecumenismo e os Batistas”, seus pares da mesma “Fé e Ordem” o ultrajaram e o desprezaram movidos por interesses sabe-se lá quais... Mas ele seguiu altaneiro o curso da sua vida em fidelidade plena ao seu Senhor absoluto! Eis aí um homem de valor que não se deixou abater, mesmo diante das adversidades e as incompreensões sofridas.

No dia 30 de maio de 1991 o Brasil ficou mais desfalcado de reais valores, ficou desfalcado de um homem de valor, pois nesse dia “caiu em Israel um príncipe e um grande" (II Sm 3.38). Sim, naquele dia inesquecível foi recolhido aos tabernáculos eternos o "HOMO DEI" e a voz tênue mas firme de um ardoroso defensor da sã doutrina. Aquela voz cala-se definitivamente em nosso meio! Coincidentemente no mesmo dia e mês que ele aceitou a Jesus de maneira formal e pública, há 26 anos! Que em tudo o Nome do Senhor seja glorificado!

Por tudo aquilo que eu tenho passado e experimentado na carne, como fruto colhido e resultado de minha vida pregressa, quando do tempo da minha ignorância na incredulidade (I Tm 1.13) sendo hoje, assim como ele, ultrajado, mal-entendido, pouco compreendido, caluniado, defenestrado e desprezado por alguns, até mesmo por colegas da mesma Fé e Ordem, eu que a tantas mãos infectas e indignas beijei, se vivo ele fosse hoje, pelo que eu lhe fiz no passado, com bastante honra imerecida, beijar-lhe-ia as suas mãos santas e operosas que tantas boas obras fez, como “efeito da sua salvação”! Este é meu pleito de dívida para com um homem a quem eu tanto persegui... Misericórdia, meu Senhor!...

*pastor batista, foi sacerdote católico romano duante 22 anos consecutivos, autor do livro "Confissões Surpreendentes de um ex-Padre", conferncista.

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