sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A IGREJA QUE O SENHOR DEUS USA...

Pr. José Barbosa de Sena Neto
pastorbarbosaneto@yahoo.com.br


Há, por todo o mundo, igrejas que Deus não está abençoando e nossas cidades, grandes e pequenas, estão repletas de igrejas mortas, sem vida, frias e indiferentes, embora possuam uma declaração de fé ortodoxa. Que tipo de igreja deseja o Senhor e qual a igreja que Ele quer abençoar? Não há outra fonte a que possamos ir a fim de responder a esta pergunta, a não ser a Palavra de Deus, pois é nela que encontramos o plano divino para igrejas locais sólidas e bem sucedidas. Outras de há muito já se afastaram da verdadeira fé cristã, envolvidas e mergulhadas num pragmatismo religioso sem precedentes, “igrejas com propósitos” que não são os do Senhor.

Na igreja de Tessalônica, observamos inúmeras características apresentadas com a finalidade de serem alcançadas por todas as igrejas que querem, realmente, servirem ao Senhor. E uma das características encontradas naquela igreja, é que ela era uma igreja operante (I Ts. 1.2-4). O texto revela que essa igreja estava empenhada em uma “operosidade de fé (e) da abnegação do vosso amor” (v.3). Encontramos aqui duas palavras gregas distintas. A primeira, traduzida por “operosidade” contém o pensamento da tarefa na qual está empenhado, enquanto que a segunda, traduzida por “abnegação”, refere-se à fadiga e ao esgotamento produzido pela tarefa. Por operosidade entendemos ser produtividade. Por abnegação entendemos renúncia, desprendimento, sacrificar-se em benefício de outrem, devotamento. O motivo pelo qual muito pouco é realizado para o Senhor Jesus é que muitos crentes não são operantes e nem abnegados. Mas os crentes de Tessalônica eram abnegados ao ponto de chegarem ao esgotamento pela causa do seu Mestre, Salvador e Senhor absoluto.

O trabalho eficaz para Deus é produzido, não apenas pela fé pessoal, mas por um coração que ama. As palavras do Senhor Jesus a Pedro nos faz lembrar-se de tudo isso: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? ... Apascenta os meus cordeiros” (João 21.16). Os crentes que não servem ao Senhor com produtividade e sacrificando-se em benefício de outrem, são deficientes em amor, frios de coração, apáticos, desinteressados e precisam ter seu vigor espiritual estimulado novamente. Precisam voltar ao primeiro amor.

A outra característica que encontramos naquela igreja, é que era receptiva à Palavra de Deus e aos líderes de Deus (I Ts. 1.5-6). Observemos o contraste entre as palavras: “... nosso evangelho não chegou...” e as palavras: “... vos tornastes imitadores nosso e do Senhor”. Estas frases indicam que aqueles crentes daquela igreja do primeiro século haviam recebido a mensagem de Paulo com um coração aberto, quando ele foi lá pela primeira vez.

Observemos também esta frase: “... tendo recebido a Palavra...”. Denota que eles acolheram entusiasticamente a Palavra. Há uma idéia de recepção calorosa, franca. Algumas pessoas recebem a Palavra de Deus domingo após domingo, mas não lhes dão a menor atenção, e voltam para casa vazias apáticas e rebeldes. Mas não foi assim com os eleitos de Deus daquela igreja!

Uma das coisas que impressionaram Paulo quanto à autenticidade da conversão dos crentes tessalonicenses foi o fato de que eles se tornaram “imitadores” do apóstolo “e do Senhor”. Isto quer dizer que eles procuravam viver como os apóstolos viviam – em completa renúncia, desprendimento e em completa consagração a Deus. Nossos pastores estão vivendo assim, para que os membros de suas igrejas possam “imitá-los”, para que haja produtividade na Obra do Senhor? Que tenhamos resposta positiva para esta pergunta...

Os crentes tessalonicenses recém-convertidos tiveram, imediatamente, o desejo de viver vidas agradáveis ao Senhor e, por isso, começaram a moldar seu viver diário de acordo com os únicos crentes que conheciam - os apóstolos - que os haviam levado a Cristo. Quanta responsabilidade recai sobre todos nós, pastores e obreiros, ministros do Evangelho!

Outra característica que encontramos naquela igreja, é que ela era paciente (I Ts. 1.6). Aqueles crentes tessalonicenses foram duramente perseguidos por causa de sua fé e Atos 17.1-9 descreve a natureza daquela perseguição. Uma das principais causas da perseguição foi o fato de que o evangelho penetrou na comunidade judaica e “alguns deles foram persuadidos” (At. 17.4). Pelo fato de os judeus terem aceitado a Cristo como Salvador perturbou os líderes judeus, os quais ficaram enfurecidos.

A figura que Paulo usa para descrever “em meio de muita tribulação”, diz respeito à pressão e provação que seriam experimentadas por alguém triturado entre duas pedras enormes. Muitas vezes os recém-convertidos podem experimentar pressões tremendas, especialmente por parte de parentes e familiares não salvos. Esses crentes devem ser sustentados com oração e ser objeto da grande fraternidade cristã diante dessas provações difíceis. Sob pressões dessa espécie alguns crentes ficam deprimidos, derrotados e amargurados. Mas não foi isso que aconteceu com os crentes tessalonicenses. Eles experimentavam, vivenciavam esta “muita tribulação, com alegria do Espírito Santo”. (v.6) Que contraste maravilhoso! Seríamos, hoje, capazes de vivenciar as mesmas coisas por que passaram aqueles crentes do primeiro século?

O NT está repleto de referências de alegria no Senhor demonstrada naqueles primeiros crentes: “...regozijando-me por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (Atos 5.41); “E houve grande alegria naquela cidade” (Atos 8.8); “Os discípulos, porém, transbordavam de alegria...” (Atos 13.52); “...narrando a conversão dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmãos” (Atos 15.3). Maravilha! A vida vitoriosa, em meio a pressões e perseguições, só pode ser conseguida com o poder do Espírito Santo.

Observamos, também, que a igreja de Tessalônica era uma igreja exemplar (I Ts 1.7). Paulo declara claramente que aquela igreja se tornara “o modelo para TODOS os crentes...”. A cidade de Tessalônica estava situada em uma encruzilhada e era um importante centro. A igreja de lá era muito conhecida e o relatório de seu vibrante testemunho foi espelhado por todo o mundo romano. Outras igrejas foram moldadas por ela. A nossa igreja local tem sido assim?

Lamentavelmente, a grande maioria de nossas igrejas locais não compartilham da reputação da igreja de Tessalônica. A espiritualidade de algumas de nossas igrejas deixa muito a desejar, desceram a um nível muito baixo e, em conseqüência disso, em vez de darem um bom testemunho às igrejas co-irmãs, são conhecidas como “igrejas-problemas”, onde os seus pastores não dão sinais de profunda intimidade com Deus, por muitos não serem homens de oração, e que ainda não aprenderam a se alimentar da Palavra, para alimentar bem as suas ovelhas! É triste a situação, mas é uma realidade!

E por que muitos se têm tornado homens vazios, pelo falto do hábito de não buscarem o Senhor pelas madrugadas, não tendo por comportamento ouvirem constantemente o Senhor na sua inerrante Palavra, muito têm se alimentando do pragmatismo desenfreado reinante por aí afora, permitindo que em seus arraiais o ambiente se transforme em tudo menos em santuário do Senhor, e aí está o resultado, igrejas cheias de “propósitos” e superlotadas de pessoas sem as marcas do “nascer de novo” sem o qual ninguém “pode ver o reino de Deus” (João 3.3). São igrejas transbordantes de pessoas ansiosas pelas “bênçãos do Senhor”, mas que não querem nenhum compromisso com o Senhor das bênçãos, igrejas transbordando de crentes mal-alimentados, subnutridos da Palavra, com semblante espiritual anêmico, nada operoso, nada abnegado! Determinadas igrejas nossas são conhecidas principalmente por seu mundanismo e falta de dedicação total ao Senhor Jesus, o qual deveria ser Senhor absoluto de suas vidas. Que privilégio ser membro de uma igreja como a de Tessalônica!

Ela era, também, uma igreja missionária (I Ts 1.8). E Paulo é enfático: “... porque de vós repercutiu a Palavra do Senhor não somente na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus...”. Ali estava uma igreja local, cuja luz não se escondia debaixo do alqueire, mas brilhava constantemente para Cristo. A palavra traduzida por “repercutiu” significa o toque agudo e sonoro de uma trombeta e assim era o testemunho vivo daquela igreja!

Aquela igreja não influenciou sua responsabilidade apenas em casa. Ela compartilhava a sua “fé para com Deus” na sua própria região. Isso é essencial para o cumprimento da Grande Comissão em nossa geração. Muitas das nossas igrejas pensam que a evangelização deve estar centralizada principalmente em ‘grandes concentrações’, realizadas uma ou duas vezes por ano, em momentos especiais. Entretanto, o verdadeiro evangelismo praticado naquela igreja constava de um programa efetuado, dia após dia, semana após semana. Ela tinha por hábito a vivência constante de fazer repercutir a sua fé em Deus por toda a parte! Aqueles crentes evangelizavam dia após dia!

A cidade de Tessalônica estava localizada na província da Macedônia, e Acaia era a província vizinha. Além disso, seu testemunho fora para o exterior, “por toda a parte”, isto é, espalharam-se grandemente e sua visão ia muito além da localidade imediata onde se encontrava.

A igreja que não possui visão dos milhares e milhões que perecem em lugares distantes é uma igreja fria, sem entusiasmo, sem operosidade, sem abnegação, é muito pobre, embora algumas sejam ricas em bens materiais... Mês após mês, milhares de pessoas afluíam a cidade de Tessalônica e algumas delas iam sendo despertadas pelo evangelho, convertiam-se a Cristo Jesus e movimentavam-se por todo Império Romano, dando testemunho a respeito do Salvador.

Era também uma igreja separada. (I Ts 1.9-10). Paulo emprega uma palavra muito adequada para descrever o impacto do evangelho sobre esses crentes, afirmando que os tessalonicenses haviam se convertido: “.... deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro”. Era separada do pecado, dos ídolos, da sua velha maneira de ser. Separada. Santa.

Conversão significa uma transformação completa e visível da vida e essa mudança sempre acompanha o novo nascimento. Ah, quanta falta nos faz ouvirmos sempre e sempre mensagens sobre o “nascer de novo”!... É uma mensagem antiga, mas que se renova a cada dia! Os ‘modismos’ a tem afastado de nossos púlpitos. Quanta saudade elas nos faz!

Não se tratava simplesmente de fazer uma “promessa” ou “compromisso”, assinar um cartão, orar ou aceitar mecanicamente a verdade do João 3.16. Era uma completa e evidente mudança radical de coração e vida, operada pelo poder do Espírito Santo! Nesta época em que vivemos, de tentativas superficiais de aproximação impregnadas de novos paradigmas às coisas espirituais, quando o marketing e a psicologia são confundidos com a proclamação do Evangelho da Graça, é preciso sempre lembrar que Jesus afirma que o novo nascimento é condição sine qua non para que tenhamos o nosso nome inscrito no Livro da Vida do Cordeiro, e que este novo nascimento consiste em “nascer do Espírito”, e que isto é infinitamente mais do que uma “decisão” emocional, embora esteja incluído o ato da vontade, e que o “nascer de novo” é obra inteiramente de Deus, e não o resultado de uma persuasão humana hábil e persistente. É uma transformação radical realizada pelo poder do Espírito Santo, e que resulta em uma vida completamente nova e diferente.

Paulo menciona, então, a expectativa que se apoderou dos tessalonicenses, que os levara a esperar ansiosamente “dos céus o Seu Filho”. Conquanto a palavra “converterdes”, no verso 9, descreva uma ação que era feita uma vez por todas, as palavras “servirdes” e “aguardardes” nos versos 9 e 10 indicam uma ação presente e representam uma atitude constante e contínua. A cada dia aqueles crentes esperavam que Jesus voltasse! E nós, temos estado também, ansiosos pela volta de Jesus!

Embora tenha sido curto o tempo de ministério que Paulo teve entre aqueles crentes, ele os instruiu na maravilhosa doutrina da volta do Senhor Jesus, a qual era muito mais que um simples parágrafo em uma declaração doutrinária. Era uma viva esperança motivadora em suas vidas. “Maranata! Vem, Senhor Jesus!”

Eis a descrição divina de uma igreja espiritual, ganhadora de almas, e que honrava ao Senhor Jesus. As características por ela apresentada, poderiam servir de prova para cada uma de nossas igrejas locais verificar até que ponto seu ministério e testemunho estando agradando ao Senhor.



* pastor batista, foi sacerdote católico romano durante 22 anos consecutivos, autor do livro “Confissões Surpreendentes de um ex-Padre”, conferencista.

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